domingo, 8 de novembro de 2009
O voo cego do Urubu Rei
Posted on 23:15 by MARCONI
Fábio Mozart
Na Itabaiana dos anos 60/70 surgiu um líder político incomum. Um homem “portador de sensorialidades excepcionais”, palavrório que quer dizer da condição de pessoa que vê pouco, que tem vista ruim. No caso, o homem chama-se Josué Dias de Oliveira, albino irmão do mestre Sivuca, um cara que via muito além, apesar da deficiência visual.
Sujeito inteligente acima do comum, esse Josué. Formou-se em Direito, mesmo pobre e com as limitações físicas devido à anomalia genética. Meu pai, que é seu grande amigo e parceiro, conta que na Faculdade Josué teve que se submeter a uma prova oral, sem ter estudado o ponto.
– Como terminou a Guerra do Peloponeso? – perguntou o docente de História Universal.
– Essa guerra terminou em paz! – respondeu Josué.
Sem passar recibo da lorota, o mestre indagou:
– Fale sobre a vida de Rui Barbosa.
– Sei tudo sobre a vida desse grande homem, mas prometi a mim mesmo jamais falar sobre isso. Espero que o senhor respeite este meu compromisso – respondeu Josué com a maior desfaçatez.
O professor deu uma risada orgasmática e aprovou o aluno, inteligentemente engraçado.
Tempos depois, Josué montou um escritório de advocacia com meu pai, Arnaud Costa. Era o Escritório Sobral Pinto. Nessa banca só pagava quem podia. Foi assim se popularizando o homem vermelho da cabeça grande que acabou caindo na política. Candidato a prefeito, sem dinheiro, mas com um grande carisma, Josué enfrentou o Padre João, o preferido das elites locais. Era o pobre contra o sacerdote representante dos ricos, o “homem de Deus” contra o advogado debochado e livre pensador, o conservador das salas das senhoras “de bens” e da sacristia contra o boêmio.
O povo botou logo uma alcunha no galego: “urubu-rei”. Levado pelos braços do populacho, “Urubu-Rei” passou a perna no vigário e levantou voo para o poder. Dizem que o irmão famoso contribuiu com alguns dólares para a campanha, que foi uma das mais memoráveis da política de Itabaiana.
Em 1964, o Urubu-Rei teve que levantar voo de novo, desta vez, afugentado pelos militares que tomaram o poder no País. Foi deposto pela “Revolução” e nunca mais quis fazer parte do jogo político. Hoje vive na cidade de Carpina/PE, tendo escrito seu nome na História de Itabaiana como o homem que venceu a elite do berço e da Igreja, proporcionando um suspiro de esperança ao povão.
Na Itabaiana dos anos 60/70 surgiu um líder político incomum. Um homem “portador de sensorialidades excepcionais”, palavrório que quer dizer da condição de pessoa que vê pouco, que tem vista ruim. No caso, o homem chama-se Josué Dias de Oliveira, albino irmão do mestre Sivuca, um cara que via muito além, apesar da deficiência visual.
Sujeito inteligente acima do comum, esse Josué. Formou-se em Direito, mesmo pobre e com as limitações físicas devido à anomalia genética. Meu pai, que é seu grande amigo e parceiro, conta que na Faculdade Josué teve que se submeter a uma prova oral, sem ter estudado o ponto.
– Como terminou a Guerra do Peloponeso? – perguntou o docente de História Universal.
– Essa guerra terminou em paz! – respondeu Josué.
Sem passar recibo da lorota, o mestre indagou:
– Fale sobre a vida de Rui Barbosa.
– Sei tudo sobre a vida desse grande homem, mas prometi a mim mesmo jamais falar sobre isso. Espero que o senhor respeite este meu compromisso – respondeu Josué com a maior desfaçatez.
O professor deu uma risada orgasmática e aprovou o aluno, inteligentemente engraçado.
Tempos depois, Josué montou um escritório de advocacia com meu pai, Arnaud Costa. Era o Escritório Sobral Pinto. Nessa banca só pagava quem podia. Foi assim se popularizando o homem vermelho da cabeça grande que acabou caindo na política. Candidato a prefeito, sem dinheiro, mas com um grande carisma, Josué enfrentou o Padre João, o preferido das elites locais. Era o pobre contra o sacerdote representante dos ricos, o “homem de Deus” contra o advogado debochado e livre pensador, o conservador das salas das senhoras “de bens” e da sacristia contra o boêmio.
O povo botou logo uma alcunha no galego: “urubu-rei”. Levado pelos braços do populacho, “Urubu-Rei” passou a perna no vigário e levantou voo para o poder. Dizem que o irmão famoso contribuiu com alguns dólares para a campanha, que foi uma das mais memoráveis da política de Itabaiana.
Em 1964, o Urubu-Rei teve que levantar voo de novo, desta vez, afugentado pelos militares que tomaram o poder no País. Foi deposto pela “Revolução” e nunca mais quis fazer parte do jogo político. Hoje vive na cidade de Carpina/PE, tendo escrito seu nome na História de Itabaiana como o homem que venceu a elite do berço e da Igreja, proporcionando um suspiro de esperança ao povão.
FOTO: Dr. Josué Dias de Oliveira, Dr. Marcos William e Arnaud Costa