terça-feira, 9 de junho de 2009

Fábio Mozart / CONVERSA DE BAR

Posted on 03:30 by MARCONI

Eu, Penca Preta e Sanderly tomando umas lapadas no cabaré das Malvinas, aparece um cara chamado Rei, poeta de profissão e vagabundo por excelência. Sanderly foi logo apresentando:

--- Esse aqui é o Rei que já foi muambeiro, jogador de futebol e agora vai ser beque no “poesia futebol clube”. Cismou que é poeta.

--- Muito prazer.

--- Prazer é meu, companheiro.

Apertamos as mãos. O Rei sentou, pediu uma lapada. Peguei logo a falar.

--- Sabe, Rei?

O Rei não sabia mas ficou sabendo que eu já tinha escrito poesia em jornal e agora ia botar num livro a vida de todo vagabundo e mulher da vida que tivesse notícia em Itabaiana e outro lugares menos votados.

--- Não é, Penca Preta?

Penca Preta fez que sim com a cabeça, e como já tava mais pra lá do que pra cá, ferrou no sono enquanto eu ia contando uma história comprida de miserê, que acabou mais ou menos assim:

--- Você é poeta por ser vagabundo ou é vagabundo por ser poeta? A resposta depende muito de quem faz a pergunta. Do ponto de vista ético, todo poeta é vagabundo, e do ponto de vista estético, todo vagabundo é poeta. Ora, se entre poeta e vagabundo a distância é milimínima, o mesmo não acontece entre vagabundo e malandro. O vagabundo é sempre um idealista. Há entre os dois a diferença quilométrica que há entre um drible de Pelé e um chutão de Dunga. O Rei não tava “pescando” nada, e já ia pedir pra trocar aquilo em miúdo quando Sanderly disse:

--- Quando ele começa a falar difícil é porque já ta bebinho da silva.