segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Fábio Mozart - Versos fesceninos

Posted on 03:13 by MARCONI

Versos fesceninos

Fábio Mozart

Registro em ata minha admiração pelos poetas repentistas. A sabedoria cósmica e humor arretado desses caras os tornam artistas excepcionais. Hoje quero falar de dois poetas desse naipe, Heleno Alexandre e Antonio Xexéu. Heleno é de Sapé, tem 36 anos, diretor de programação da Rádio Comunitária Sapé, produtor e apresentador do programa “Violas e Violeiros”. Já cantou até no Ceará, na TV Diário, no programa “Ao Som da Viola”. Na Paraíba, de vez em quando aparece no “Cantos e Contos” da TV O Norte. Mas o que gosta de fazer é apresentar-se em escolas públicas e comunidades carentes, levando a cultura popular para as novas gerações.

Antonio Xexéu é de Itabaiana, tem 53 anos, poeta de rua, como gosta de dizer. Pega a viola e sai cantando pelas feiras do Nordeste, com ou sem parceiro, com público ou sem, com dinheiro ou sem nenhuma grana. Admirador do grande Manoel Xudu, Xexéu um dia encontrou-se com Heleno em uma venda, na fazenda Taumatá. Depois de engolidas algumas lapadas de mel de abelha com cachaça de cabeça, os dois vates começaram a cantar safadeza, aqueles versos fesceninos, um bocado licenciosos. Heleno Alexandre é um sujeito erudito, escolado, longe do padrão dos poetas repentistas analfabetos do Nordeste. Ele faz questão de esclarecer que na Roma antiga que falava latim, os versos fesceninos eram populares, porque se acreditava que a obscenidade tinha o poder de afastar o mau-olhado.

Antonio Xexéu é também cantor da trova libidinosa, mas sem a erudição do companheiro. Afinal, “só terminou a cartilha do ABC e a tabuada”. Começaram a cantar um “trocado”, quando Heleno falou de suas façanhas masturbatórias:

Eu trabalho atualmente

Na Fazenda Santa Esther

Meu patrão tem uma mulher

Que é o satanás em gente

Quando ele está ausente

Ela chega no terreiro

Passa a mão no corpo inteiro

Aumentando o meu tesão

Eu vou me acabar na mão

Feito colher de pedreiro.



Xexéu aproveitou a passagem de um casal de caprinos para cantar:


A cabra ensinou ao bode

A demonstrar compostura

Acabar com essa frescura

De comer cu, que não pode!

Eu faço barba e bigode

Disse o bodinho tarado

Já ficando aperreado

Com o cacetinho duro

Encostou no pé do muro

Dizendo: fode ou não fode?



Heleno tem dez anos que canta repente. Até escreveu um livro por nome “De repente...Dez anos”, que pretende lançar em breve. Antonio Xexéu publica folhetos de cordel com temas atuais e estórias que ele inventa. O último folheto ele escreveu em homenagem à prefeita de Itabaiana, dona Dida. Foi na última campanha política. O folheto começava assim:



Até quem não é daqui

Conhece a nossa prefeita

Uma mulher competente

Honesta e muito direita

Que plantou dignidade

E agora faz colheita.



Assim o poeta canta

Nessa nossa louvação

O mister de dona Dida

Na sua administração

Chamada “Um Novo Tempo”

De competência e ação.


FOTO: Poeta Heleno Alexandre