quarta-feira, 13 de maio de 2009
Banda Nova Euterpe
Posted on 10:08 by MARCONI
Banda Nova Euterpe - Patrimônio Vivo de Itabaiana
Fábio Mozart
A Banda Nova Euterpe é a sucedânea de outras sociedades musicais que existiram em Itabaiana desde 1888, quando a vila pertencia ao Município de Pilar. Nesse tempo todo, a banda desaparece e surge como a Fênix mitológica, no dizer do historiador Sabiniano Maia. Em 1901, o trem apitou pela primeira vez na terra de Zé da Luz, sendo saudado pela banda de música liderada por Alcebíades Araújo, um dos homens mais inteligentes de Itabaiana em todas as épocas. Manoel Araújo, o prefeito da cidade, pegou Alcebíades e formou uma escola de música. Em pouco tempo a filarmônica estava pronta, tocando seus dobrados e valsas no coreto da praça. O próprio prefeito tocava piston. Nessa banda tocava saxofone um rapazinho de nome Severino Rangel, que depois ficou conhecido nacionalmente como Ratinho, da famosíssima dupla sertaneja Jararaca e Ratinho.
Portanto, a banda de música de Itabaiana sempre existiu, alegrando sua gente, produzindo gênios da qualidade do mestre Sivuca e tantos outros músicos de escol. Já foi chamada de Filarmônica Itabaianense, Filarmônica Santa Cecília, Sociedade Musical Itabaianense, Banda Musical 24 de Maio e Euterpe Itabaianense. Atualmente, a banda se chama Nova Euterpe, comandada pelo maestro Zezé e abrilhantada por músicos da qualidade de Marreta, Chico Sanfoneiro, Walmir, Paulão, Tota, Zé Maria, Zé Guerra e tantos outros seguidores dessa tradição de Itabaiana. Pena que atualmente já não exista a escola de música da banda, onde crianças recebiam orientação musical gratuita, imprescindível para a transferência de conhecimentos e na formação de novos instrumentistas. É uma pena mesmo que hoje os músicos não possam se apresentar como antigamente, quando a banda saía da sua sede em formação militar, com os músicos de uniformes limpos, engomados, sapatos engraxados, quepes na cabeça, desfilando pelas ruas ao som de dobrados, em direção ao coreto da Praça Álvaro Machado. Atualmente eles não teem fardamento, os instrumentos estão obsoletos e a sede já não existe. Mas ainda resistem na preservação desta tradição itabaianense, lembrando grandes e abnegados músicos iguais a Ivanildo, Quirino e Henrique, homens que preservaram nosso passado romântico e artístico.
Hoje, as bandas de música são uma tradição que está morrendo no Brasil. Em Itabaiana, a banda depende dos chamados poderes públicos. Em 1986, o então prefeito Babá municipalizou a banda Nova Euterpe, doou novos instrumentos e uniformes, deu vida nova à entidade. Mas tudo no Brasil sofre solução de continuidade quando se trata da coisa pública. Entra outro administrador e as coisas mudam. A banda de Itabaiana sempre foi dirigida ora pela paróquia, ora por particulares, ora pela prefeitura. Na década de 1910, a banda era da Prefeitura, sendo proibida de tocar nas festas religiosas porque o prefeito brigou com o padre. Depois foi o contrário: o padre José Trigueiro brigou com o chefe político Dr. Flávio Ribeiro Coutinho e a banda já não tocava nos eventos oficiais.
Independente das brigas paroquiais, a banda vem se mantendo, com um histórico de apresentações memoráveis, chegando a ganhar um concurso estadual promovido pela Rádio Caturité de Campina Grande, nos anos 50. Entre seus mestres e grandes músicos, conta-se Pedro Carneiro, Mestre Flor, Manoel Cavalcante, Jovelino Cândido e Manoel Fuá, que tocava todos os instrumentos. Esse mestre Fuá era cobrador de feira, muito amigo de Toinho, tocador de piston e cunhado do respeitável professor Mendonça, que hoje dá nome a uma escola primária da cidade. Entre os músicos do passado, se conta José Tertuliano Ferreira de Melo, que cortava carne verde no mercado nos dias de feira, depois conhecido como Zuza Ferreira, um dos maiores poetas itabaianenses, o homem que ensinou Zé da Luz a fazer versos matutos e cortar paletós de linho branco na alfaiataria. Na fase áurea, despontavam o soprano Francisco Martins, contra-baixo Pedro Vieira, Manú na clarineta, o alfaiate João Pitu no piston, o guarda-livros Joaquim Abreu no bombardino, Manoel Jurema no trombone, o tipógrafo Pedro Ivo na clarineta, Severino Fagundes no trombone, Nezinho Ferreira na bateria e o porteiro da Prefeitura Laurentino Barbosa se garantia na tuba. Entre eles, havia um tal Pingolença, que era um homem muitíssimo inteligente. Pingolença tocava trompa na banda, além de ser desenhista, mecânico, pedreiro, pintor e mestre em outros ofícios. Foi ele quem montou o relógio da Igreja, doado por Odilon Maroja. Tudo isso eu conto no meu livro “História de Itabaiana em versos”.
Reza a lenda que o genial Sivuca, aos oito anos de idade, apontava os instrumentos por acaso desafinados que compunham a banda, quando a “furiosa” passava na porta de sua casa, em Campo Grande. Seu ouvido ultra- sensível sabia distinguir o valor de uma moeda pelo tilintar dela ao cair no chão.
Mas voltando à banda Nova Euterpe de hoje, é de se fazer um apelo à prefeita dona Dida para ajudar nossa banda civil. Quando nada, porque a banda de música tem suas origens na França, país que empolga nossa prefeita, onde ela viveu muitos anos, sorvendo sua cultura. A banda é mais do que um veículo de entretenimento coletivo, participando de movimentos políticos, acontecimentos religiosos, cívicos e sociais. No nosso caso, a banda é o próprio espírito da arte e da cultura desta terra, que deve ser preservado.
Fábio Mozart
A Banda Nova Euterpe é a sucedânea de outras sociedades musicais que existiram em Itabaiana desde 1888, quando a vila pertencia ao Município de Pilar. Nesse tempo todo, a banda desaparece e surge como a Fênix mitológica, no dizer do historiador Sabiniano Maia. Em 1901, o trem apitou pela primeira vez na terra de Zé da Luz, sendo saudado pela banda de música liderada por Alcebíades Araújo, um dos homens mais inteligentes de Itabaiana em todas as épocas. Manoel Araújo, o prefeito da cidade, pegou Alcebíades e formou uma escola de música. Em pouco tempo a filarmônica estava pronta, tocando seus dobrados e valsas no coreto da praça. O próprio prefeito tocava piston. Nessa banda tocava saxofone um rapazinho de nome Severino Rangel, que depois ficou conhecido nacionalmente como Ratinho, da famosíssima dupla sertaneja Jararaca e Ratinho.
Portanto, a banda de música de Itabaiana sempre existiu, alegrando sua gente, produzindo gênios da qualidade do mestre Sivuca e tantos outros músicos de escol. Já foi chamada de Filarmônica Itabaianense, Filarmônica Santa Cecília, Sociedade Musical Itabaianense, Banda Musical 24 de Maio e Euterpe Itabaianense. Atualmente, a banda se chama Nova Euterpe, comandada pelo maestro Zezé e abrilhantada por músicos da qualidade de Marreta, Chico Sanfoneiro, Walmir, Paulão, Tota, Zé Maria, Zé Guerra e tantos outros seguidores dessa tradição de Itabaiana. Pena que atualmente já não exista a escola de música da banda, onde crianças recebiam orientação musical gratuita, imprescindível para a transferência de conhecimentos e na formação de novos instrumentistas. É uma pena mesmo que hoje os músicos não possam se apresentar como antigamente, quando a banda saía da sua sede em formação militar, com os músicos de uniformes limpos, engomados, sapatos engraxados, quepes na cabeça, desfilando pelas ruas ao som de dobrados, em direção ao coreto da Praça Álvaro Machado. Atualmente eles não teem fardamento, os instrumentos estão obsoletos e a sede já não existe. Mas ainda resistem na preservação desta tradição itabaianense, lembrando grandes e abnegados músicos iguais a Ivanildo, Quirino e Henrique, homens que preservaram nosso passado romântico e artístico.
Hoje, as bandas de música são uma tradição que está morrendo no Brasil. Em Itabaiana, a banda depende dos chamados poderes públicos. Em 1986, o então prefeito Babá municipalizou a banda Nova Euterpe, doou novos instrumentos e uniformes, deu vida nova à entidade. Mas tudo no Brasil sofre solução de continuidade quando se trata da coisa pública. Entra outro administrador e as coisas mudam. A banda de Itabaiana sempre foi dirigida ora pela paróquia, ora por particulares, ora pela prefeitura. Na década de 1910, a banda era da Prefeitura, sendo proibida de tocar nas festas religiosas porque o prefeito brigou com o padre. Depois foi o contrário: o padre José Trigueiro brigou com o chefe político Dr. Flávio Ribeiro Coutinho e a banda já não tocava nos eventos oficiais.
Independente das brigas paroquiais, a banda vem se mantendo, com um histórico de apresentações memoráveis, chegando a ganhar um concurso estadual promovido pela Rádio Caturité de Campina Grande, nos anos 50. Entre seus mestres e grandes músicos, conta-se Pedro Carneiro, Mestre Flor, Manoel Cavalcante, Jovelino Cândido e Manoel Fuá, que tocava todos os instrumentos. Esse mestre Fuá era cobrador de feira, muito amigo de Toinho, tocador de piston e cunhado do respeitável professor Mendonça, que hoje dá nome a uma escola primária da cidade. Entre os músicos do passado, se conta José Tertuliano Ferreira de Melo, que cortava carne verde no mercado nos dias de feira, depois conhecido como Zuza Ferreira, um dos maiores poetas itabaianenses, o homem que ensinou Zé da Luz a fazer versos matutos e cortar paletós de linho branco na alfaiataria. Na fase áurea, despontavam o soprano Francisco Martins, contra-baixo Pedro Vieira, Manú na clarineta, o alfaiate João Pitu no piston, o guarda-livros Joaquim Abreu no bombardino, Manoel Jurema no trombone, o tipógrafo Pedro Ivo na clarineta, Severino Fagundes no trombone, Nezinho Ferreira na bateria e o porteiro da Prefeitura Laurentino Barbosa se garantia na tuba. Entre eles, havia um tal Pingolença, que era um homem muitíssimo inteligente. Pingolença tocava trompa na banda, além de ser desenhista, mecânico, pedreiro, pintor e mestre em outros ofícios. Foi ele quem montou o relógio da Igreja, doado por Odilon Maroja. Tudo isso eu conto no meu livro “História de Itabaiana em versos”.
Reza a lenda que o genial Sivuca, aos oito anos de idade, apontava os instrumentos por acaso desafinados que compunham a banda, quando a “furiosa” passava na porta de sua casa, em Campo Grande. Seu ouvido ultra- sensível sabia distinguir o valor de uma moeda pelo tilintar dela ao cair no chão.
Mas voltando à banda Nova Euterpe de hoje, é de se fazer um apelo à prefeita dona Dida para ajudar nossa banda civil. Quando nada, porque a banda de música tem suas origens na França, país que empolga nossa prefeita, onde ela viveu muitos anos, sorvendo sua cultura. A banda é mais do que um veículo de entretenimento coletivo, participando de movimentos políticos, acontecimentos religiosos, cívicos e sociais. No nosso caso, a banda é o próprio espírito da arte e da cultura desta terra, que deve ser preservado.