segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Por uma lei Carimbó

Fábio Mozart

Homem batendo em mulher. Essa opressão íntima vem sendo combatida pela Lei 11.340/06, a “Lei Maria da Penha”, coibindo a violência doméstica e familiar contra a mulher. Neguinho que surrar a companheira leva processo nas costas e pega até cadeia. A lei tem o nome em homenagem a Maria da Penha Maia, uma mulher que passou vinte anos apanhando do marido, até que ficou paraplégica. Lutou muito para ver seu agressor condenado.

Se a Constituição Federal fosse discutida e aprovada hoje, certamente modificaria seu artigo 153, parágrafo 1º, onde afirma que “todos os homens são iguais perante a lei”. As combativas feministas corrigiriam para “todos os homens e mulheres são iguais”. Nessa sociedade patriarcal, nem sempre somos iguais, homens e mulheres. Só em 1993 a Câmara dos Deputados aprovou o novo Código Civil, onde se considera a mulher em igualdade de condições com o homem na vida civil. O velho código, de 1916, considerava a mulher, o índio, a criança e o doido pessoas incapazes de exercer direitos e obrigações na vida civil. Pelo novo Código, o homem perdeu a condição de chefe da família. A sociedade conjugal passa a ser dirigida igualmente pelos cônjuges. O marido perdeu o pátrio poder e o direito de determinar o domicílio do casal.

“Do jeito que vai, o homem vai acabar sem direito algum”, lamenta-se o saudosista do tempo em que a mulher era simples objeto de cama e mesa. Mas a Lei Maria da Penha é discriminatória, porque só fala em coibir a violência doméstica contra a mulher. E o homem que apanha de sua cara metade? Aí aparece o preconceito às avessas: mulher que sofre agressão de homem é vítima, e homem que apanha da mulher é corno.

Estudos mostram que homens e mulheres se agridem em proporções iguais, ou a mulher pode chegar a cometer o maior número de agressões num relacionamento. Uma pesquisa feita pela Unidade de Estudos de Álcool e Outras Drogas (Uniad) da Unifesp, com apoio da Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas), em 2008, concluiu: “As mulheres brasileiras são mais violentas do que os homens durante as brigas de casal. A porcentagem de mulheres que agridem os parceiros é de 14,6%, enquanto o relato de homens que batem no sexo oposto é de 10,7%”. Esta pesquisa mostra ainda, assim como muitas outras, que as mulheres tendem a cometer a maior parte de agressões leves e a atirar objetos nos seus parceiros.

Conheci um compadre que sofria nas mãos da sua patroa. Eram surras diárias com cipó de jucá, tamanco, virola de pneu e cabo de vassoura. O pobre homem vivia humilhado, sendo caçado em tudo que era bar. Ele era forte e brabo, mas diante da mulher virava um cordeirinho. Temia a sua algoz como o diabo tem medo da cruz. Teve problemas psicológicos por causa desse relacionamento conturbado. O nome do homem eu não digo, mas o apelido é Carimbó.

Sei que vou receber muitas críticas das minhas amigas feministas, mas forçoso é reconhecer que a mulher é quem comete mais violência psicológica contra o homem. Ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir, principalmente em relação a bares e similares, a maioria dos homens é vítima de toda essa coação. A lei Maria da Penha é, portanto, inconstitucional por ser discriminatória. Que se aprove uma Lei Carimbó, para proteger os homens do gênio irascível da maioria das mulheres.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Meu amigo baiano

Fábio Mozart

Dizem que baiano burro nasce morto. E paraibano nem nasce! Conheci um cara a quem chamavam de Baiano, mas ele mesmo nunca definiu de onde veio. Foi assim: em 1972 eu editava um periódico literário por nome “Jornal Alvorada”. Arrumei emprestado com o prefeito de Itabaiana, Aglair da Silva, um maquinário gráfico antigo e montei minha tipografia numa casa de taipa no bairro Açude das Pedras. Não havia eletricidade, a impressora era manual. Meu ajudante chamava-se Biu Penca Preta. Por aí se percebe a imprestabilidade daquele empreendimento, sem muita ligação com a realidade.

Um dia me aparece um senhor de meia idade, alto e magro, cabelos compridos brancos, barbicha idem, maltrapilho e super gago. Pedia esmolas. Alguém o chamou de baiano e ficou assim batizado. Gostei do seu jeito, logo foi agregado à gráfica “sopapo” como ajudante. Dormia na casa, alimentava-se de pão e água, fumava muito. Queixava-se de uma dor de cabeça crônica. Para amenizar a dor, soltava bombas junto ao ouvido. Creio que sofria de um tumor cerebral.

Descobri que Baiano falava, lia e escrevia em inglês, alemão e espanhol, adorava ouvir as rádios estrangeiras em ondas curtas. E revelou-se para mim outro fenômeno: Baiano tinha uma memória excepcional. Decorava tudo que lia imediatamente. Sabia a Bíblia toda de cor.

Comprei um rádio velho para ele. Passava as noites ouvindo emissoras de outros países e fumando sem parar. De vez em quando soltava uma bombinha perto do ouvido para amenizar a dor. Esse homem cuja amizade me honrou, viveu conosco até morrer, certamente do mal de que se queixava. Por indecisão, negligência ou por outras razões, jamais soubemos de suas origens, do seu passado. Suas manias e seu jeito denotavam alterações patológicas. Sua mente guardava segredos acima do padrão normal.

Não existem vidas comuns. Cada uma esconde um milagre.

Eliane Brum é uma jovem jornalista, autora de um livro chamado “A vida que ninguém vê”. Nele, a autora afirma que “não podemos nos iludir com a cegueira do cotidiano”. Para ela não existem vidas comuns, existem olhos domesticados.

ILUSTRAÇÃO: “Cabeça de velho”, de Cândido Portinari

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Não existem vidas comuns

Fábio Mozart

Encontrei o Professor Benjamim, um dos meus raros leitores, no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, em Itabaiana. Ele veio entregar cerca de 200 livros da Universidade Estadual da Paraíba para a biblioteca comunitária Arnaud Costa que acabamos de inaugurar. O mestre perguntou de chofre:

– Por que você fala tanto em Itabaiana e Mari, e pouco menciona Timbaúba, sua terra natal?

Pergunta pouco desafiadora, posto que fácil de responder. É que saí de Timbaúba com apenas 8 anos de idade. Morei 25 anos em Itabaiana, onde vi, ouvi e vivi tudo o que foi interessante para minha formação, nada de excepcional ou extraordinário, um passado “pouco recomendável” perante a sociedade. Mas é como disse o pensador: aquilo que vem ao mundo para nada perturbar não merece nem contemplações nem paciência. Foi com esse pensamento que meu professor Zenito Oliveira procurou me conhecer, quando chegou a Itabaiana com sua Irene Marinheiro.

– Quem é aquele barbudo?

– Um comunista metido a boêmio, frequentador de puteiro.

– Pois é com esse povo que eu gosto de conviver – disse o mestre Zenito.

Dito e feito. Ficamos amigos, gostei de sua franqueza, ele admirou minhas ideias meio confusas na política e nas artes, e assim formamos uma patota. A imagem mais remota que guardo de Zenito foi quando, por obra e desgraça dos lambe-botas da ditadura e meia dúzia de falsos moralistas, nosso professor e amigo Idalmo foi expulso do Colégio Estadual. Zena foi um dos poucos colegas de profissão a ficar ao lado do nosso “senador”, um ato de muita coragem naqueles tempos safados.

Mas estou eu tergiversando. Quero falar mesmo é de Timbaúba, nas remotas eras de minha infância. Foi na Princesinha da Serra onde nasci na Rua do Sapo. Depois fomos morar no bairro Timbaubinha, numa casa de esquina em frente a uma praça que ainda hoje está lá. Foi onde bateram essa “chapa”. O quinto menino da direita sou eu aos oito anos. Ao meu lado, meu primo Josué de camisa listrada, o cara que construiu uma máquina de projetar filme, um encantamento para meus olhos de garoto pobre. Era uma caixa de sapato com lâmpada vazada e cheia d’água. O filme, pedaços de fita que arrumavam no cinema Alvorada. Nunca esqueci aquele projetor. Essa imagem fantástica ainda hoje está viva na minha emoção. Minha aspiração intensa passou a ser construir um daqueles aparelhos encantados.

Daquele grupo de pessoas, só minha mãe está comigo. Os demais, não sei onde o destino os levou. Sei que minha tia Judite, ao fundo, ao lado de mãe com o garoto, faleceu. Esse garoto é meu irmão Nôca. Fico refletindo: onde estarão essas pessoas hoje? O que foi feito de suas vidas? Não existe vida comum. Cada uma esconde um milagre. Sabe o que faria se tivesse grana? Investiria numa busca insistente para recuperar a história individual de cada figura dessa foto antiga.

Amanhã falarei de um cara excepcional que conheci em Itabaiana. Não percam esse eletrizante capítulo da novela “Não existem vidas comuns”.

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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Falando mal dos amigos

Fábio Mozart

O grande Ariano Suassuna fez o público gargalhar em uma de suas “aulas-espetáculo” a respeito do disse-me-disse:

− Tem coisa melhor do que falar de um amigo pelas costas? Veja bem: o sujeito desafoga um infortúnio do espírito e ainda preserva o amigo...

Pois vou disseminar umas especulações que andam fazendo em torno do meu amigo Ferreirinha, Presidente do Gayrreiros do Vale, organização não-governamental que trabalha pela afirmação dos direitos humanos em Itabaiana. Um rapaz por nome Jailson Andrade, por sinal dono de uma ótima redação, acima da média, enviou mensagem onde pede para divulgar denúncias que faz contra Ferreirinha. Segundo ele, o líder dos Gayrreiros vem cometendo desmandos à frente da entidade, terminando por manobrar “nas caladas da noite” para impedir a realização de eleições, onde o próprio Jailson seria candidato de oposição, conforme entendi. Diz que Ferreirinha mudou os estatutos, configurando-se num “golpe branco” contra a democracia interna da associação.

Como manda o bom jornalismo, remeti mensagem ao próprio Ferreirinha para saber de sua versão sobre o fato. Recebi resposta que depois publico. Não faço julgamento pessoal, quem sou eu para julgar as pessoas?

Vivemos um momento proativo na vida cultural de Itabaiana, apesar das brigas políticas contraproducentes e das atitudes um tanto mesquinhas de algumas figuras. Temos aí o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, contribuindo com essa efervescência cultural há muito tempo esperada. Hoje vemos grupos teatrais, grupos de dança, movimento de artistas plásticos, artesãos, cineastas e compositores produzindo e tentando mostrar sua arte. O Gayrreiros do Vale é uma entidade que soma nessa interatividade, ajudando a sociedade a transpor seus problemas sociais, denunciando e fazendo sua parte, como provam os diversos projetos sociais e culturais já desenvolvidos.

Se há problemas internos a resolver, quero mais é que sejam achadas soluções de consenso, sem que para isso venhamos a crucificar fulano ou beltrano, mesmo porque, uma entidade que tem como princípio a “humanização do ser humano” não pode entrar em disputa acirrada por valores nocivos como ganância pelo poder, falta de visibilidade e intrigas próprias de partidos políticos burgueses, se bem que até incluo os ditos socialistas nessas práticas.

Proponho ao Jailson e ao Ferreirinha, e demais interessados, um grande debate público, aberto e democrático, para dirimir as dúvidas e colocar a disputa em níveis civilizados. Para o bem da sociedade como um todo. E para o convívio harmonioso dos que acreditam na coesão da unidade social.

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FOTO – Ferreirinha lidera ONG que atua na defesa dos direitos humanos

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Tragédias e comédias das alcovas

Fábio Mozart

O sexo tornou-se o centro de nossas vidas, motivador de nossas ações, por ele se mata e se morre; enfim, controlar a sexualidade alheia é uma das formas mais poderosas de exercitar o poder.

Mas isso não é de hoje. Estou lendo “Dois mil anos de segredos de alcova – de Nero a Hitler”, Claude Pasteur. Conta casos sobre a impotência do poeta Ovídio, o abuso de afrodisíacos por Lucrécio, as bacanais de madame Wou na China, a fimose de Luiz XVI, as extravagâncias do duque de Choisy e os órgãos sexuais atrofiados de Felipe Augusto. Essas curiosidades sexuais de figuras ilustres da História desfilam no livro de Pasteur, mostrando como os problemas da sexualidade afetaram a psicologia das figuras que foram essenciais nos destinos da humanidade.

Entre doenças venéreas, impotências, noites de núpciais doidas e pressão religiosa, desfilam os humilhados e incapazes, os malucos e tarados da História. Ainda estou na página 47 e já passaram as traições de Vênus, um casamento forçado entre uma santa e um príncipe brutal e a história de uma imperatriz chinesa que gostava de beber o esperma do príncipe. Por sinal, na China, antigamente os assuntos do sexo eram tratados de forma clara, sem nenhuma vergonha. O contato com a cultura ocidental mudou o comportamento, criando o sentimento de pudor de debater os temas sexuais. A madame Wou beijava os pênis dos seus ministros. Manteve-se ativa sexualmente até aos setenta e oito anos, quando foi presa e morreu na cadeia.

Sobre sexo e poder, versão paraibana, remeto a crônica do nosso site: fabiomozart.com/joao_pessoa_21.html

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Combatendo o bom combate e revendo amigos.

Arnaud, Iraci e Dr. Joaquim.

Foi assim na inauguração da Biblioteca jornalista Arnaud Costa no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar em Itabaiana, cidade que a cada dia que passa está mais provinciana. Minha cidade vem perdendo a elegância e sofisticação de outrora. A nova geração está perdida num mar de mediocridade. O que resta de lazer para a juventude são os bares e barracas no meio da rua onde se bebe e se ouve música de péssimo gosto. O modo de pensar ou agir de nossos conterrâneos indica a falta de elevação moral da nossa gente. Sem querer afrontar ninguém, que aqui não falo do geral, mas da maioria, o que se convencionou chamar de imaginário coletivo.

É porque nos faltam formação e desenvolvimento intelectual. Com isso também se vão a delicadeza e a urbanidade. Propagar som em altos decibéis no meio da rua, urinar nas portas das pessoas, avacalhar com o que temos de rico e tradicional, ignorar as boas maneiras e o respeito entre os cidadãos, tudo isso é resultado da falta de educação, a doméstica e a formal.

O que fazer? Ignorar essa tragédia que põe em risco nosso futuro? Perder o ânimo diante da inércia oficial e da falta de vontade dos educadores para superar essa tragédia? Ou acreditar até o último minuto que alguma coisa pode ser feita, e que você deve fazer a sua parte?

Nem tudo está perdido. Eles se chamam Joelda, Maria das Dores, Edglês, Rose, Débora, Joseildo e outros jovens que se colocaram como voluntários para organizar uma biblioteca comunitária. São estudantes que estão aprendendo a gostar de livros e de arte. Isso é uma das razões para que pessoas como este velho guerreiro continuem na batalha, remando contra uma maré braba no sentido de levar conhecimento e ilustração principalmente para a juventude.

No dia 29 de janeiro, inauguramos a Biblioteca Comunitária Arnaud Costa. Opotunidade para rever velhos amigos de antigas lutas etílicas, políticas e culturais de Itabaiana. Figuras que hoje moram em outros lugares e atenderam ao convite do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Meus professores Idalmo da Silva, Zenito Oliveira e Irene Marinheiro estiveram lá, abraçando a família Palhano nas pessoas de Romualdo, Beto, Palmira, Ecilio,Tânia e dona Hilda. Minha mãe Iraci deu um abraço saudoso na professora Nel Ananias. Meu pai Arnaud Costa encontrou o velho amigo Edílson Andrade, o professor Edmilson Jurema, Manoel Medeiros e outras pessoas de nosso tempo. Meus irmãos Vasti e Sósthenes reviveram esse encanto de estar na nossa terra com amigos comuns numa noite mágica de teatro e confraternização cultural. O Grupo Piollin apresentou um espetáculo magnífico, com texto de Altimar Pimentel e direção de Buda Lira: “Casamento de branco”. O professor Romualdo Palhano fez o lançamento oficial de dois livros, um de poesia e outro sobre a história do teatro na Paraíba.

A variada programação da noite agradou a todos, incluindo um grupo de alunos que foram levados ao Ponto de Cultura Cantiga de Ninar pelo seu professor. Se um daqueles jovens estudantes saiu dali pensando no que viu e ouviu, sentindo chegar no seu pensar o voo rasteiro da ave da intelectualidade, se ele ao deitar ficou raciocinando sobre o encanto da representação teatral que acabou de ver e as palavras candentes dos poetas, já valeu a pena o esforço de nossa equipe para organizar a festa.

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Ainda o tema polêmico do Haiti

Foram 578 acessos ao post, com muitos comentários sobre a crônica “Religião do Haiti”, publicada no blog. Meu recorde absoluto. Algumas das observações:

“Depois de ler as tolices de alguns leitores escritas abaixo, a maioria sem se identificar, vi que não é só o embaixador que pensa assim. Então quer dizer que Dra. Zilda era também praticante do voduismo? Pois se ela morreu lá...” (Wilson Pereira – Brasília –DF)

“Olá Fábio! Tudo o que escreve de forma bastante esclarecedora nos mostra o quanto ainda tem boçais ocupando tribunas e cadeiras de poder. Pobre embaixador... Para você, parabéns! Cada vez mais vamos construindo nossas opiniões acerca dessa tragédia, que para mim, começou com o desrespeito com esse povo lindo haitiano, desde a colonização. Abraço fraterno!” – Maria Vitória Ramos – Formiga – MG)

“Fiquei surpresa e encantada com a seriedade e inteligência que você usou ao abordar um tema tão polêmico. Parabéns.” – Rosi Finco – São Paulo – SP)

“Olá Fábio! Excelente. Não tenho religião (apenas acredito em Deus), não sou contra nenhuma delas e entendo a importância de todas dentro da sociedade. Achei muito bacana sua iniciativa de expor idéias baseadas em estudos sérios e não declarações levianas de um homem que raciocina com a carteira e toma decisões politicas baseadas no favorecimento próprio. Abraços.” – Michel Araújo – Itapevi – São Paulo

“Gostei muito do seu texto. Estava um pouco angustiada, por ter escutado, não de um embaixador, de um ser que crer ser "humano", que a tragédia foi a mão de DEUS, pelas práticas religiosas "daquele povo", que segundo ele deviam todos ser "exterminado para não contaminar" assim como todos que tentassem ajudar, velhos jovens ou crianças". Acredito em DEUS, amo incondicionalmente à DEUS, mas ELE não tem culpa nessa tragédia. Quem joga bomba, faz guerra biológica, agride de todas as maneiras a natureza, somos nós, seres humanos.” – Sigel – Volta Redonda – RJ

“Parabéns, amigo, por um texto simples e necessário. Quisera que fosse mais lido - se bem que aqueles que mais o necessitam nunca o leriam de qualquer jeito, ou, caso lessem, diriam "que horror!" e orariam pela salvação de sua alma. Uma boa alma, por sinal - sem salvação miojo, ou seja, instantânea: siga as instruções do pacote e é só adicionar água. Um abraço!” – Dalva Aqne Lynch – São Paulo – SP

“Excelente! Parabéns, Fábio! Não ligue para aqueles que fanatizados, babacas do Apocalipse, usam Deus como arma. Como não tenho a finesse do Daumon, postarei um texto em resposta a tanta asneira. Abraços.” – Dusept (64 anos) – Paris – França

“Gostei muito, Fábio! Parabéns”. Ronaldo José de Almeida – (Advogado, jornalista e escritor) – Montes Claros – MG

Isso de catástrofes naturais leva ao meu profeta favorito, o grande Raul Seixas, que cantava assim no disco “As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor”:
"Tá rebocado meu compadre
Como os donos do mundo piraram
Eles já são carrascos e vítimas
Do próprio mecanismo que criaram..."

"...Buliram muito com o planeta
E o planeta como um cachorro eu vejo
Se ele já não aguenta mais as pulgas
Se livra delas num sacolejo..."

Aproveitando a deixa, lembro que fazem duas décadas que morreu Raul Seixas. Viveu 44 anos criticando a moral estabelecida e tomando porre. Até hoje os jovens cantam suas canções.

Na foto daí de cima, eu cantando o repertório de Raulzito em 1988. Mas isso é outra história que eu conto depois.

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sábado, 30 de janeiro de 2010

Jessier Quirino e Paulo Coelho

Fábio Mozart

Quem fez a esdrúxula comparação foi o poeta Zanony, em mesa de cerveja no bar do Zé. O confronto é extravagante porque Jessier Quirino é um poeta e Paulo Coelho também escreveu letras de músicas no passado, mas a distância de um para outro é abissal no que se refere à produção de cada um nos dias que correm. Quirino faz versos saborosos com a faculdade que possui seu espírito de artista para pegar os mangaios da cultura popular e transformá-los em jóia rara. Paulo Coelho é um escritor medíocre que se tornou bestseller por obra e graça da mágica marqueteira.

Zanony garante que os dois, Jessier e Paulo Coelho, devem seu sucesso a um truque simples: pegam um monte de matérias de difícil digestão, passam numa peneira e servem ao público aquele xerém já diluído. Os dois são magos. Coelho transforma um monte de besteiras como viagens astrais, seres de outros planetas, almas gêmeas e terceiro olho em coisa séria. Jessier Quirino se apodera das imagens estereotipadas do matuto nordestino, criando personagens e imagens boas para o consumo do público médio. “O ‘bicho' de Paulo Coelho foi Raul Seixas, e o ‘bicho’ de Zé da Luz foi Catulo da Paixão Cearense. Jessier Quirino tem Zé da Luz como seu ‘bicho’”, argumenta ebriamente o poeta Zanony. “Bicho”, no caso, é a inspiração.

É tema para discussão entre letrados e críticos. Eu simplesmente não tolero o Paulo Coelho e sou admirador do trabalho do Jessier Quirino. Estando no banheiro, e sem nada para ler além de um livro do Coelho, prefiro me divertir lendo bula de xampu ou rótulo de sabonete. Nem para isso servem os livros de auto-ajuda do Paulo Coelho, no meu caso.

Sujeito pernóstico, Zanony garante que aprendeu algumas coisas com Paulo Coelho. As mais importantes: se você deu a bunda quando mais jovem, mesmo por curiosidade, isso faz de você um mago, pois aprendeu o feitiço de encantar serpentes e fazer sumir cobras. Se você, mesmo sendo um escritor banal, consegue entrar para a Academia Brasileira de Letras, você não é mago nenhum, porque Sarney também está lá com seu “Marimbondos de Fogo”. Falar de alma gêmea não vende só Sabrina, Samantha e outros livrinhos ruins. Vende também livros de Magos.

Se Paulo Coelho é um saco vazio ou não, desconheço porque só li duas ou três páginas do seu primeiro livro. Foi o bastante para esgotar minha paciência de leitor desacostumado com as profundidades do tesouro de conhecimentos exotéricos ali contidos. Jessier Quirino é um gênio da poesia popular, se é que existe poesia impopular. Na função de contador de causos, o cara é fera. Nunca um poeta exerceu tão bem os dois ofícios, de escritor e ator nas performances de sua própria obra. Por seu estilo original, vem se destacando. Que me desculpe Zanony, mas tu parece que bebe!

Em tempo: pessoalmente, Jessier Quirino é chato, não fala com as pessoas em Itabaiana, terra onde ele capta os personagens mais caricatos de seus versos engraçados. É de casa para o escritório, sem dar um bom dia a seu ninguém. Ele admite que é tímido. Ninguém acredita, vendo sua performance na TV e ao vivo. Esquisitices de artista...

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Depressão e sexualidade

Fábio Mozart

O tema “depressão” rendeu muitas mensagens de leitores interessados no mote, que esse problema psíquico é mais comum do que parece. Não sou estudioso do assunto nem vítima da doença. Minha depressão é mais ligada a fatores econômicos caracterizados por falta de capital, causando estado de desencorajamento consumista e atitudes de fuga de uma praga chamada cobrador.

Falando sério que a coisa não é brinquedo. Uma moça do Piauí escreveu para a Toca do Leão dizendo que é mulher de trinta e seis anos que passou por duas crises depressivas sérias, terminando com uma tal de síndrome do pânico. “Só quem sofreu sabe o que é”, garante minha comadre piauiense. Ela observa que “um dia a gente acorda e não quer mais levantar da cama, não vai trabalhar nem consegue conversar com ninguém”. As lágrimas afloram aos olhos sem qualquer motivo aparente. Não falta quem tente encorajar o pobre coitado depressivo: “Sai dessa”, “você tem que reagir”, e coisas do gênero.

Brasileiro é phoda com PH de farmácia, já dizia meu compadre Maciel Caju. Pois não é que uma brasileira da Paraíba se mandou para a Europa e lá inventou um método para combater a depressão daquele povo triste, recuperando o prazer de viver no paraíso do primeiro mundo? É um projeto que ela chama de social, para detonar com a síndrome depressiva, coisa que está na moda também no velho mundo. O método é simples: ela narra suas peripécias de moça pobre do interior da Paraíba, conta o estado de penúria muito grande em que viveu a maior parte do tempo, expõe com cores fortes e dramáticas o bê-a-bá do miserê nordestino, pra depois evidenciar sua alegria, afeto e carinho, criatividade, fantasia, fé, sonho, suingue e amor. A danada está ganhando os tubos ministrando workshops pela velha Europa.

Sim, a sexualidade do título foi só pra chamar sua atenção, porque com a autoestima baixa, o depressivo sequer se olha no espelho. Não se tem a menor excitação, garante minha confidente. Pessoal que estiver com problemas, libido em baixa, a cabeça cheia de caraminholas, é procurar os médicos.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Uma bodega filosófica

Zé de Bica tem uma bodega na cidade de Itabaiana, terra do poeta Zé da Luz. Bodega você sabe o que é, né? Uma vendola de secos e molhados, onde o matuto também pode molhar a goela com a melhor “pau dentro” da região. “Pau dentro” você sabe o que é, né? Uma bebida fermentada misturada com mel de abelha e algumas raízes medicinais.

A bodega do Zé de Bica é palco de muitas cantorias de “pé de parede” de poetas repentistas. Eles chegam na segunda, véspera de feira, de tardezinha, e abrem a sessão com um prato no meio, dois ou três pinguços e muita imaginação. Desses, tem dois poetas que eu acho o máximo! Curió de Salgado e Antonio Xexéu. Esses dois passarinhos tem dia que estão inspirados como nunca. Cantam pela noite adentro no ritmo da viola, e haja toada, e haja poesia, e tome versos celestiais. E tome “pau dentro!”

Outro dia pedi um mote sobre o poeta Augusto dos Anjos. Augusto você sabe quem é, né? Aquele poeta de Sapé que escreveu uns versos da gota serena de científicos, cheios de nomes estrambóticos. Mas é como disse um escritor aqui da terra: quando o poeta está na boca do povo, é porque está consagrado pra “seculum seculorum”. Assim falou Zaratustra e Antonio Xexéu. Augusto é assim, um poeta que todo bebinho sabe de cor alguns versos. E cantador de viola sabe tudo! Aí eu botei dez reais no prato e pedi:

--- Cantem um trocado sobre Augusto dos Anjos.

Curió de Salgado largou o vozeirão:

Ele já foi decantado
Por todos os trovadores
E bons improvisadores
Do verso escrito e cantado.
Desde os vates do passado,
A arte desse poeta
Aponta como uma seta
O objetivo da vida:
O belo é a grande meta.

Mesmo falando da morte,
Esse poeta do “Eu”
Que lá em Sapé nasceu
Tinha a natureza forte
Pois a beleza era o norte
De sua obra imortal,
Criação original
Da mente do mestre Augusto
Por isso eu digo sem susto:
Excede o bem e o mal.

Curió é um poeta educado, estudioso e falante, fugindo do padrão do violeiro, que é conhecido por ter uma grande imaginação mas sem as luzes das letras. Xexéu é semi-analfabeto mas que poeta! Vejam o que ele cantou, e eu consegui anotar:

84 era o ano
E o século dezenove.
Lentamente já se move
Esse poeta troiano
De cuja obra eu me ufano
Sem medo da podridão
Arrastando o coração
Do homem com seu escarro
Pois somos feitos de barro
E o destino é o caixão.

No fim, Curió arrematou com esses versos geniais:

No dia 20 de abril
Comemoro o nascimento
Desse homem de talento
Que lá em Sapé surgiu
Pois o mundo nunca viu
Tanta arte e irreverência
Com a clara consciência
Da nua realidade:
A tragédia e a maldade
De nossa humana vivência.
No mais tudo é teoria,
Só lendo os versos do “EU”
Pra sentir como sofreu
Augusto em sua agonia
Descrevendo a anarquia
Que é a natureza humana
Com a crença soberana
De uma obra singular.
Augusto foi e será
O maior dessa porfia.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ai daquele que tocar no ungido do Senhor

Fábio Mozart

Este blogueiro ficou impressionado com a repercussão do texto sobre a religião do Haiti. Recebi dezenas de mensagens, a maioria me ameaçando com a fogueira do inferno por não acreditar que Deus pessoalmente comandou a destruição naquele pobre país. Alguns padres e pastores posicionam-se de forma até racional. Já os fiéis do naipe de um tal Marcos Bittencourt presumem que “Deus não quer dividir seus filhos com outro deus morto. Não importa se é o Vudu que predomina, nós vamos entrar e pregar sobre o único Deus que existe, e ai daquele que tocar no ungido do Senhor!”. Parece uma declaração de guerra.

Júlio Cezar Galli é professor em Jaboticabal, São Paulo. Contestando a informação de que os Estados Unidos foram os algozes do Haiti em passado recente, ele pergunta: “E qual país está prestando a maior ajuda?”.

O Pastor Elias Júnior declara que não quer atacar, julgar nem defender. Deixou alguns versículos da Bíblia “para minha meditação”. A ameaça do seu Deus é patente: “Quando aquilo que temem abater-se sobre vocês como uma tempestade, quando a desgraça como um vendaval, quando a angustia e a dor os dominarem, então vocês me chamarão, mas não responderei; procurarão por mim, mas não me encontrarão. Visto que desprezaram o conhecimento e recusaram o temor do Senhor”. (Provérbios 1.31-33).

Victor garante que é o fim do mundo, e que o Apocalipse está próximo. Pede que Deus me dê muitas vitórias e assegura que Ele é fiel. Uma moça por nome Nete Gal mandou textos sobre o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Aproveita para pedir que Deus tenha misericórdia de mim. Ana Carolina diz que pra ela “o Vudu não passa de bruxaria e feitiçaria”.

Heitor Dias tem 77 anos e mora na Austrália. Aproveita e mete o pau nos hindus: “Fábio, o Deus em quem, parece, você não crê, deu-nos o livre arbítrio para tudo fazer, inclusive a liberdade de seguir crenças de povos infelizes, paupérrimos, machistas e intelectualmente estagnados na idade da pedra, como são os indianos praticantes do Hinduísmo.

Sandra Moreira Araújo escreveu: “Caro Fábio, graças a Deus vivemos em um País onde podemos expressar nossas opiniões, então lá vai: não se trata apenas de credo, mas também de ponderação e bom senso. Como pode uma determinada crença levar à felicidade e o bem de uma nação quando seus membros unem-se a Satanás, fazendo alianças para conseguir seus objetivos? Será que o Deus da Bíblia, já não garante Salvação, vida eterna, paz verdadeira, através de Jesus? Será que esses povos, (não só Haitianos) não estão em rebelião, uma vez que a Bíblia nos mostra que só há um Deus e só a Ele prestarás culto?”.

Luma Araújo foi contundente: “Fábio Mozart, seu conhecimento e meus atos de bondade são trapos de imundície. Um dia, você e eu estaremos diante da morte. Eu sei o que dizer para ela. Pelo seu texto, nota-se que só terás a dizer o que dizem. Mas ainda assim, você terá que confessar que só há um único Deus, Jesus de Nazaré”.

Marcelo acredita que “o Haiti apartou-se de Deus e será assolado por suas culpas. Deus derrubará seus altares e arruinará seus ídolos (Oséias 10:2)”. Meu leitor nem se lembra que Zilda Arns morreu dentro de uma igreja católica. Não consta que ela estivesse adorando ídolos pagãos.

Tyna mora em Belém, tem 17 anos, mas sua opinião foi uma das mais razoáveis: “E quem disse que o inferno fica debaixo da terra? Vivemos no inferno e nem nos damos conta disso. Na realidade não há demônios de chifres medonhos, rabo e bafo de enxofre andando por aí. Há homens de terno e gravata lascando a humanidade”.

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

“Com governo ninguém pode”

Ruben Siqueira é um jornalista baiano que se bate contra o projeto de transposição do rio São Francisco, porta-voz da Frente Cearense Por Uma Nova Cultura de Água e Contra a Transposição, da Frente Paraibana em Defesa da Água, da Terra e do Povo do Nordeste, da Articulação Popular São Francisco Vivo, da CPT – Comissão Pastoral da Terra e da Diakonia no Rio Grande do Norte. Escreveu longo artigo na Folha de São Paulo descrevendo os martírios das populações do campo na região de Quixabinha, município de Mauriti, no Ceará. São 83 as famílias já removidas ou a serem removidas de suas casas e roças. As obras são da transposição de águas do Rio São Francisco para o chamado Nordeste Setentrional, que abrange os estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco.

Na matéria, ele introduz os elementos críticos “sonegados pela propaganda oficial sobre a obra”. Sem entrar no mérito da questão, pra lá de polêmica, registro meu contentamento em ver uma estrofe do meu cordel “Biu de Pacatuba, um herói do nosso tempo” citado no intróito da matéria: “O sistema só tolera / Dois tipos de componentes:/ Os tiranos que exploram/
E os subservientes. / Os que lutam por justiça / Serão sempre dissidentes.”
(Fábio Mozart, Biu de Pacatuba - Um herói do nosso tempo ).

No folheto, ainda inédito em formato impresso, narro a saga de Biu de Pacatuba, apelido de Severino Alves Barbosa, um dos principais líderes das Ligas Camponesas na Paraíba. O cordel citado pode ser lido em http://www.fabiomozart.com/biu_pacatuba_26.html.

Sob o signo da internet, essa tradicional literatura popular nordestina encontra caminhos inusitados e reveladores. Mesmo sem ter sido impresso, meu folheto ganha o mundo, dando notícias de nossa vocação libertária, como preâmbulo de manifesto de luta das classes subalternas na guerra incessante para “"não se deixar cooptar, não se deixar esmagar, lutar sempre, conquistar na luta vitórias reais com o povo", conforme declarou com firmeza ideológica o pensador Florestan Fernandes.

“Com governo ninguém pode”, termina o jornalista sua reflexão sobre a política de Lula em relação aos problemas da terra, citando essa expressão “de antigas e angustiantes reminiscências e tantas vezes ouvida da boca de indefesas vítimas da transposição”. Para ele, soa como “escandaloso fracasso da nossa incipiente e débil democracia e um permanente desafio às consciências livres e à recriação permanente da luta social”.

Parafraseando, diria que com a cultura popular não tem quem possa, que ela vai se adaptando aos novos tempos, atraindo cada vez mais a atenção do público pelo mundo afora, atenuando a linha que divide a cultura dita popular e os meios de comunicação eletrônica, revelando raízes imprevistas entre as duas mídias, folheto e internet. O cordel vem mudando paulatinamente a sua forma de difusão, adaptando-se aos meios modernos, sumarizando a vocação multimídia do poeta popular.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Aposentado não tem sorte nem com seu hino

Hoje, 24 de janeiro, é o dia nacional dos aposentados. Recebi do meu companheiro Cleofas um CD com o hino dos aposentados, produzido pela Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas. O hino oficial dos aposentados é um primor de besteira. Um rapaz por nome Marcelo Cassoni foi o autor da pérola. Estrofe do hino:

Com as mãos calejadas
Corpo já cansado
Foram anos de muito trabalho
Buscando direitos
Vencendo preconceitos
É a luta dos aposentados.

Sou aposentado ferroviário. Vou retribuir com disco de uma cantora chamada Eliana que canta uma música mandando pessoas chatas irem tomar nas entranhas. O disco não vai pra Cleofas, mas para o compositor do tal hino. É brincadeira, como diria aquele outro chato comentarista de futebol, um tal de Neto. No mesmo CD dos aposentados tem a música “Vida de gado”, de Zé Ramalho. Somos comparados a uma manada de bois mansos.

Eu queria ter nascido aposentado, como meu compadre Biu Penca Preta, que nunca enfiou um prego numa barra de sabão pra fela da puta nenhum e vive numa boa, tomando “água benta” no mercado público de Itabaiana. Aposentado não tem condições nem de pegar um ônibus para receber seu miserável dinheiro do INSS. Ainda dizem que os aposentados são os heróis nacionais. Aposentado quer dizer “recolhido ao aposento”, mas no nosso caso, a dura realidade é que passamos o restante da vida dependendo de parentes porque a merreca do “benefício” não dá pra nada. Ainda por cima me aparece um “compositor” pra compor esse hino idiota.

O presidente Lula lesa os aposentados. Não é justo o contribuinte pagar em cima de determinado número de salários e na hora da sua aposentadoria o governo reduzir progressivamente nossos proventos. Sou vítima de extorsão da Previdência, de um governo que se diz dos trabalhadores. Vai tomar no orifício também!

sábado, 23 de janeiro de 2010

Diabos somos todos nós

Postei uma matéria, toda citação, a respeito da religião Vudu do Haiti, país que está na crista da mídia por conta do terremoto. Recebi centenas de mensagens. Posteriormente publicarei as mais contundentes e inquietantes. Creiam: a maioria das pessoas acredita mesmo que Deus castigou aquele país por causa da religião dos haitianos. O tempo não modifica nossa essência, se é que temos alguma.

Uma senhora chamada Miriam Padilha Moraes escreveu: “Acredito no sofrimento como uma forma de libertação. Aqueles que se curvaram e viram os escombros, vislumbraram a força do poder de Deus, mostrando que não devemos nos aliar a Satanás nem a bruxarias. Os que não comungam com o Diabo se mantêm vivos no poder de Deus. Vou contribuir para salvar mais gente de lá, e para que os sobreviventes sirvam a um só Deus”. Não parece um fundamentalista islâmico falando sobre o atentado às Torres Gêmeas? Esses religiosos conservadores tornam o argumento impossível. Os senhores da Inquisição manejavam lógica semelhante.

No Haiti desabaram igrejas católicas, evangélicas, mesquitas, sinagogas e tendas de Vudu. A catástrofe é democrática. Desastres naturais ocorriam muito antes dos humanos habitarem o planeta, desde quando isso aqui era uma bola de fogo. As forças da natureza só não conseguem desobstruir as mentes dos extremistas, fanáticos e intolerantes.

Eu particularmente tenho meu próprio anticristo, causador dos males do Haiti. Os Estados Unidos invadiu o Haití en 1915 e governou o país até 1934. Justificando a feroz ocupação, o Secretário de Estado norte-americano Robert Lansing explicou que a raça negra é incapaz de governar-se a si mesma, que tem “uma tendência à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização”. William Philips, um dos invasores ianques, afirmou: “É um povo inferior, incapaz de conservar a civilização herdada dos franceses”. Os racistas de toda espécie, essa escória colonialista é, para mim, o diabo que inferniza o mundo.

Bráulio Tavares escreveu que o Haiti fez mesmo o tal pacto com o diabo e esclarece: “o demônio foram as nações ocidentais, França e EUA, com quem foram feitos os acordos que espoliaram o país durante décadas”. Ou seja: o diabo somos nós...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Religião do Haiti

Fábio Mozart

Leio que o embaixador do Haiti no Brasil atribuiu o terremoto em seu país às práticas religiosas do seu povo. Um internauta por nome Tião Maia escreveu: “infelizmente, o Haiti tem uma acentuada prática de bruxaria, vuduismo e satanismo. Isso, inevitavelmente, leva às tragédias”.

Pensamentos como esses representam ignorância e preconceito. Fui pesquisar no livro “Do Vudu à macumba”, de Márcia Neves (Editora Ícone), e fiquei sabendo que “Vudu é uma religião oriunda da África, da região dos Yorubás e chegou ao Haiti, levada por escravos, em 157.

É uma religião politeísta e seus deuses são chamados "AS LOAS", no feminino. Como no monoteísmo, existe uma entidade suprema e todos os demais deuses estão abaixo dela.

Como a maioria das religiões ancestrais, suas crenças eram fundamentalmente animistas, cultuando as entidades representativas das forças da natureza, os espíritos dos mortos e alguns animais e plantas. Por isso foi considerada uma manifestação pagã, e o vuduismo se tornou proibido.

Sem outra opção, uma parte dos seguidores do Vudu, os da chamada parte branca, se fizeram ‘cristãos’ e por traz das imagens do cristianismo, faziam oferendas às suas Loas (Deuses).

Os da chamada parte negra do Vudu (correspondente à Quimbanda no Candomblé), foram perseguidos e tiveram que se manter escondidos, com cerimônias secretas e com sua cultura religiosa sendo passada de pai para filho.

Vudu é uma corruptela da palavra ‘Vaudoux’, dada a um deus serpente com poderes de oráculo. A maioria dos termos Vudu é em "Criolo", do idioma Haitiano, que combina o francês com o espanhol e o africano.

O Vudu nada tem a ver com os ‘Zumbis’, os mortos-vivos, mostrados de forma leviana pela indústria cinematográfica Holliwoodiana. O que acontece é que os escravos que se juntavam para praticar seus cultos e sacrifícios, aproveitavam para discutir sua libertação da condição de escravos e seus "amos", juntamente com o clero, atribuíam atividades demoníacas a esses cultos, como desculpa para coibi-los.

O Vuduismo é uma religião, em principio, voltada para o bem de seus praticantes, para a felicidade da comunidade e principalmente para a cura de males do espírito e doenças em geral”.

Não tente me salvar!

Fábio Mozart

Meu amigo camarada Antonio Costta manda uma mensagem ao mesmo tempo lisonjeira e preocupante. Ele afirma que é leitor diário dos meus posts e que sou um dos melhores cronistas do Brasil. “Mas me preocupo com a salvação de sua alma”, confessa Costta, citando a Bíblia: “de que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma para Deus?”

Ilustre e zeloso pregador, agradeço o elogio, mas garanto que não entro no rol dos grandes cronistas. Essa possibilidade é proporcional à salvação do rico na alegoria do camelo e da agulha, lembra?

Quanto à minha alma, não se preocupe, meu caro Costta. Uma vez no passado frequentei a Igreja Batista, levado pela minha mãe quando tinha dez anos de idade. Com os olhos da infância, nessa época comecei a descentralizar meus interesses, olhar em volta de mim, perceber as pessoas e a precariedade de sua fé. Tornei-me um homem de pouca fé, me desconstruí, achando que não precisava assim de tanta fé, porque “a fé não passa de um disfarce das dúvidas transidas de medo”, conforme sustentava Luiz Augusto Crispim, esse sim, um cronista dos grandes que a Paraíba criou e o Brasil reconheceu.

De acordo com Kant, o ser humano tem fugido da incerteza, sem desconfiar que a realidade verdadeira não nos é acessível. Por isso nossa inclinação para nos valer das doutrinas indiscutíveis. Isso é ruim na medida em que nos indispõe para conviver com as diferenças. Exemplo: por mais estúpido que possa parecer, muitos cristãos associam a tragédia do terremoto no Haiti às práticas religiosas daquele povo. Os que procuram salvar seus irmãos, como o amigo Costta, são repletos de boas intenções, mas muitas vezes movidos conforme a visão de mundo que considera seu grupo mais importante do que os demais.

Desviei-me do caminho, para desgosto de minha mãe que ainda hoje professa a fé cristã evangélica. Parei de me preocupar com o céu e o inferno. Nem por isso me julgo um perdido, combustível certo nas fornalhas do diabo. É como digo: da lista de seres invisíveis, só creio no juro embutido. Diabo, santo, alma penada, boitatá, comadre Fulôzinha ou qualquer outra entidade que não corresponda a uma realidade sensível não merecem minha crença. Isso não me fez bom nem mau. Esse desinteresse pela salvação de minha alma apenas me deu ferramentas ideológicas para ver o mundo em toda sua multiplicidade e complexidade, sem preconceito.

Portanto, por favor, não se esforce para me salvar. Não vale a pena.

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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Entendendo sua própria divindade

Fábio Mozart

Escrevi uma crônica bem humorada sobre a onda de abrir igrejas ditas evangélicas, que na realidade são arapucas para explorar a boa fé dos humildes. Um membro de igreja evangélica, meu amigo particular, enviou mensagem protestando contra a forma com que abordei o assunto. Acha que zombei do nome sagrado de Deus.

Há que saber a qual espécie de Deus ele se refere, porque são tantos! Falo da ideia de Deus, também do uso que a humanidade faz dessa ideia desde tempos imemoriais. Não sou bom nesse tema, confesso. É muita teoria, definições e “verdades absolutas”. Nem aqui é lugar para discorrer sobre assunto profundo e polêmico como esse. Eu pessoalmente acho que nós somos Deuses. Dentro de nós está o sentido de tudo, a chave do grande mistério da vida e da morte.

Pulando, entretanto, essas meditações filosóficas, minha imposição interna irresistível pelo mistério do homem enquanto salvador de si mesmo leva a falar de outros milagres, a tecer os destinos das pessoas. Cito aqui duas figuras que fizeram parte do meu caminhar, comigo cruzaram na aventura da vida, sendo que suas histórias remetem ao pensamento de Albert Einstein quando revelou: “A mente que se abre para uma nova ideia jamais voltará a ter o tamanho original”.

Um desses sujeitos chama-se Zé Ramos, cara que nasceu no mesmo dia, mês e ano que eu, portanto um escorpiano teimoso, emotivo e decidido. Escorpião é um signo com muito magnetismo. Sua energia emocional às vezes faz o que até o diabo duvida (perdão por ter introduzido outro ser fantástico e invisível neste lero-lero). Pois Zé Ramos saiu do mato, morava na roça, para estudar em Itabaiana nos anos 70. Por lá nos encontramos. Ele se envolveu com teatro amador e teve seus primeiros contatos com os livros na Sociedade Cultural Poeta Zé da Luz. Depois seguiu seu rumo, formou-se bacharel em Direito. Hoje é um advogado bem sucedido, evoluiu na profissão. Outro dia encontrei-me com ele no seu escritório. Apresentou-me ao seu sócio:

− Esse é o cara que me abriu os caminhos para a vida, depois de me apresentar aos livros.

O outro sujeito que teve uma caminhada fantástica vim a conhecer há uns três anos. Era um jovem ignorante, de família pobre e analfabeta, morador de uma comunidade super-carente de Itabaiana. Entrou para o grupo de teatro, começou a incursionar pelo mundo mágico da literatura e da arte, nunca mais parou de evoluir. Hoje esse camarada tem planos audaciosos para o futuro, mexe com maestria nas modernidades da informática, dá aulas de teatro, aprende novas habilidades, vê o mundo com outros olhares, despertou a necessidade de adquirir conhecimentos para se superar. Edglês Gonçalves é o nome da fera.

Uma oração hindu: "rogamos a Ti que ilumine nosso intelecto, dispersando nossa ignorância, assim como a esplendorosa luz do sol dispersa toda a escuridão". O hindu acredita que todos os nossos problemas são decorrentes de nossa ignorância. É nesse Deus e nessa religião em que acredito.

FOTO - Zé Ramos é advogado e empresário

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Vou fundar uma religião

Fábio Mozart

É moda nos dias de hoje fundar uma religião. Conheço dois militares da briosa Polícia Militar da Paraíba que abriram suas igrejas e estão se dando bem. Não entendo a ligação que há entre militares e igrejas de resultado, como também deixo de compreender por que se joga sempre o adjetivo “briosa” quando se trata da polícia.

Mas o fato é que vou fundar minha igreja. Minha religião terá um nome bem sugestivo e cheio de marketing: “Igreja Mundial das Doze Mil Virgens”. (Tenho a sensação de que o nome ficou um tanto atrativo para pedófilos, acho que vou mudar...). Vejo-me como um sujeito carismático para vender preceitos e receber em moeda corrente, aceitando também vale-refeição, que a doutrina não tem preconceito econômico. Minha doutrina será esotérica, exótica e pentecostalmente barulhenta. Reunirei todas as ideias, garantindo cura pela imposição das mãos, notadamente nas partes pudendas das fiéis seguidoras. Venderei ervas milagrosas, terras santas, pau santo e fogueiras, tudo ao rito sagrado das antigas tradições pagãs misturado com severas surras no gênio do mal, o anjo rebelde Satanás.

Depois de abrir minha igreja, parto para escrever um livro e comprar espaço na mídia, vendendo a cura para todos os males. Serei honesto: só não serve para resolver conflitos de interesses entre políticos paraibanos do PSDB. Pelo que tenho visto nos empreendimentos similares, a coisa tem que ser suntuosa, para dar credibilidade. Consagro-me logo Papa, chefe supremo. Com base na isenção de impostos, fundo um banco no estrangeiro para mandar minha parte. A de Deus, eu jogo pra cima; se Ele agarrar, é Dele. O que cair no chão pertence ao seu Supremo Profeta, que sou eu mesmo. Excluirei dos bens (espirituais) os que falarem mal de minha igreja, eis que “toda língua que acusar esta Igreja cairá diante dela; porque esta é a herança que o Senhor nos dá”. Portanto não darei bola pra torcida contrária “porque estes conspiradores cairão como bananas maduras diante desta Igreja do Senhor”.

Eu e minha família sairemos do caos da pobreza devido à grande intimidade que terei com Deus e com alguns operadores do mercado financeiro. Pela minha sabedoria, conhecimento, profecia e interpretação do sagrado, logo terei assento em uma câmara de vereadores, assembléia legislativa, senado e onde tiver lugar para um homem de Deus ocupar espaço. Quem me chamar de falso pastor e mercenário, vai se haver com os tribunais em nome da liberdade de culto. O espírito do anticristo toma conta do resto.

domingo, 17 de janeiro de 2010

A paixão segundo Caju

Fábio Mozart

A Fundação de Cultura de João Pessoa publicou edital para escolher o texto da “Paixão de Cristo” a ser encenado no Ponto de Cem Réis. Para ser selecionado, o texto deverá observar alguns critérios, entre eles “estar contextualizado com as questões da contemporaneidade, ser original e não ferir nem denegrir a reputação ou imagem de pessoas ou instituições”.

Nosso compadre Maciel Caju, dramaturgo dos melhores, imaginou um texto dramático que reflete toda sua originalidade e genialidade. Descartou logo a personagem de Pilatos e outros prepostos do império romano, para não impressionar desagradavelmente à pátria italiana, cujo povo tem ligação profunda com os episódios narrados na Bíblia. Criou um ambiente neutro, para não “denegrir imagens de pessoas ou instituições”. Waldemar Solha queria botar o estandarte nazista na cena da “Paixão”, o que foi motivo de severa reprovação de Chico César e demais mandatários da cultura tabajarina. Pensando nisso, Maciel tirou logo a águia, símbolo do Império Romano, que poderia muito bem ser confundida com a outra águia imperial, do velho e temido Tio Sam. Diferente de Solha, que insistiu em fazer paralelo entre a saga do Cristo e o totalitarismo moderno, Maciel não quis passar a imagem de um povo indignado, por isso perdedor. Todo mundo na cena da Paixão de Maciel parece ter saído de uma fábula, com seres que habitam o reino da fantasia, sem nenhuma referência a pessoas ou instituições. A traição de Judas ficou de fora, porque poderia ensejar similitudes com fatos recentes da política local.

Em sendo assim, criou-se um espetáculo deveras original, onde situações que poderiam estimular interpretações desconfortáveis tiveram que ser adaptadas. Os personagens são seres imaginários, míticos, possuindo elementos atemporais. Exemplo: foi banida a cena da expulsão dos vendilhões do templo, que bem poderia lembrar as desavenças do alcaide pessoense com alguns cabeçudos vendedores ambulantes. O pai do Redentor teve que trocar de antropônimo, justamente para não lembrar outro José cujo nome constrange e embaraça a trupe amarela.

Renova-se a cena com essa versão nunca antes vista do espetáculo sobre os últimos dias de Jesus. O Ponto de Cem Réis, transformado em palco, será adaptado para a encenação inusitada, que certamente desagradará aos gregos, troianos e peemedebistas, extremistas salientes, veneradores das guerras e arengas inescrupulosas. A coisa toda será tão light que a trilha sonora foi desenvolvida para acalmar a ansiedade e o estresse da multidão, ao som de suave melodia.

Iludir e afastar o povo da realidade seria um sinal da era do anticristo? As profecias anunciam a morte dos “grandes príncipes”, que seriam os políticos, todos corrompidos. Essa passagem certamente não estará no texto de Maciel Caju, afinal um talentoso conciliador e adulador da nova corte.

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Cultura e humildade

Fábio Mozart

Ontem estive com Dr. Pedro José da Silva, Secretário de Cultura, Esporte e Lazer da Prefeitura de Itabaiana, recém nomeado pela prefeita Eurídice Moreira. A própria secretaria também é novidade no Município, um dos primeiros a implantar esse departamento para cuidar da cultura. Fui cumprimentar o secretário, em nome da Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba.

Pedro disse que está empenhado na identificação dos problemas, com vontade de resolvê-los. Foi humilde ao declarar que é neófito na área, não tem experiência, mas tem a maior convicção de que, “com a ajuda dos artistas e das pessoas de bem, poderei fazer um bom trabalho”.

Pedro José não sabe, mas vai saber brevemente que o artista não é pessoa fácil de se lidar. Tem que ter paciência e equilíbrio porque somos ao mesmo tempo argumentadores, zombeteiros, irreverentes, desnorteantes, enfim, espalhamos contradições.

Na conversa ligeira que tive com Pedro, senti que ele esforça-se para cumprir seu papel, a missão que lhe foi confiada. E notem que a coisa não é fácil, porque cultura em Itabaiana nunca mereceu a dedicação dos poderes públicos, tudo está por fazer, e ainda tem a politicagem atrapalhando as melhores ações e intenções. Está aí o Fundo Municipal de Cultura, lei saída de muita luta de alguns artistas e produtores culturais há mais de cinco anos e que não funciona. O Conselho de Cultura precisa buscar um consenso e sair do marasmo.

Enfim, política cultural é um desafio imposto pelas condições históricas (sociais e econômicas) e pelo imaginário político (fortemente conservador, na cidade de Itabaiana), exigindo mudanças na mentalidade dos servidores públicos municipais, a definição de prioridades voltadas para as carências e demandas das classes populares e a invenção de uma nova cultura política. Não sei se Pedro está preparado para esses desafios, porém tenho certeza de que está ao lado de quem sonha com cultura e tem boas intenções, que é o poeta Antonio Costta, seu subsecretário. Vamos ver no que vai dar.

A relação entre arte/cultura e poderes públicos sempre foi tumultuada. Produtores culturais sempre são vistos como mendigos. Falta respeito e seriedade. Precisamos mudar a forma de discutir e fazer política em Itabaiana. Para isto proponho a formação do Fórum Permanente dos Artistas e Produtores Culturais de Itabaiana, que deve estar se reunindo pela primeira vez em fevereiro próximo. A ideia é a gente se organizar de forma horizontal e sem hierarquia, onde todos têm direito a voz e voto, em regime aberto a toda e qualquer pessoa, ou a quem interessar, como artistas e a sociedade em geral. Sem vínculo nenhum com partido político, empresas ou religiões. Pedro José disse que aceita participar do encontro. Já é um bom começo.

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sábado, 16 de janeiro de 2010

Valeu, compadre!

Literatura humanística que realça os pequenos grandes fatos das cidadezinhas do interior, impedindo que nossas origens e tradições populares caiam no esquecimento. Faz o insubstancial aparecer na sua real dimensão humana. A vida é feita de posturas e ações aparentemente sem importância que só se engrandecem na transversalidade do olhar do poeta, valorizando as pequenas coisas que formam seu universo.

Assim vejo estas crônicas de Fábio Mozart reunidas no livro “A voz de Itabaiana e outras vozes” que em boa hora o Ministério da Cultura faz publicar. O livro é inspirado nas pessoas e fatos de sua cidade, sendo ele próprio personagem de muitos eventos carregados de dramaticidade e comicidade ao mesmo tempo.

O autor é uma das marcantes figuras da cultura itabaianense de todos os tempos. Sua produção diária na internet cujo foco é a cidade que o adotou enriquece a Historiografia paraibana de nossos dias.

Tributamos respeito e admiração por este escritor que se realiza na preservação da cultura de sua gente. Pessoa simples e trabalhadora, tem focado também sua arte conforme a consciência crítica diante do sistema de exploração e a violação dos direitos da cidadania.

Sobre isso, lembro um episódio ocorrido no final dos anos 70 em Itabaiana, por ocasião da primeira greve dos canavieiros na várzea do Paraíba, quando teve início o processo de “abertura gradual” da ditadura militar. Ele foi um dos jovens que “tomou” o sindicato dos trabalhadores rurais de Itabaiana e conduziu a greve, diante da vacilação dos “pelegos”.

Numa terra de tantos poetas e bons escritores, louvo a espontaneidade e sinceridade desse poeta-cronista, cuja profissão de fé tem sido a cultura do seu povo, capaz de perceber a beleza das coisas simples. Muito me honra ter sido seu professor no antigo Colégio Estadual de Itabaiana, hoje Colégio Dr. Antonio Batista Santiago. E mais expressiva é a distinção que me concede, escolhendo-me para fazer a apresentação do seu novo trabalho, composto de boa literatura com estilo jornalístico, além do cordel sobre a cidade-berço de Zé da Luz e Bastos de Andrade.

Fui ator no seu grupo de teatro, ele que é incansável trabalhador no campo da produção artística desde os anos 70. Adorei as reminiscências concretas e pitorescas de nossas aventuras políticas, etílicas e artísticas. Valeu, compadre!

Zenito de Oliveira

(Apresentação do livro “A voz de Itabaiana e outras vozes”)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Mestre da autopromoção

Rafert é um cidadão português de 51 anos que lê meu blog e interage com as mensagens ali postadas. Meu leitor de além mar informa que é “saudável no casamento e tem vivido bem até agora”. Escreve contos e crônicas. Lendo a matéria sobre Fatinha, que criticou de maneira deselegante meu jornal “Tribuna do Vale”, ele comentou que meus textos são bons, mas sou mestre mesmo em autopromoção. “Perdoe-me pela sacada”, acrescenta o cidadão de Portugal.

Finalmente descubro que sou mestre em alguma coisa, pelo menos na visão de outra pessoa. Embora peça vênia para discordar do Rafert, no que concerne à crônica citada, porque não sei como alguém que publica opiniões negativas a seu respeito esteja procurando autopromoção. Seria autopromoção se alardeasse meus próprios méritos ou atributos. Mas acho que fui honesto ao divulgar uma opinião desfavorável.

Outro leitor, esse de Itabaiana, respondeu rudemente à dona Fatinha, a mulher que odeia o “Tribuna do Vale”. Zé Luiz, o leitor, sai em defesa do jornaleco itabaianense recomendando que Fatinha “guarde sua língua na boca” porque nunca leu o jornal e não deveria ter feito uma crítica destrutiva à publicação “tão considerada na região de Itabaiana”. Para meu leitor, a madame Fatinha “não tem conhecimento técnico nem bagagem cultural suficiente para julgar a qualidade de um jornal”.

Voltando ao português, talentoso na ciência da autopromoção, não acho que sua observação tenha um cunho ofensivo ou calunioso. Publico vez em quando mensagens elogiosas dos meus raros leitores porque o artista, por mais medíocre que seja, necessita de aplausos. Sabe quem era considerado verdadeiro mestre da autopromoção, além de um genial artista e homem sagaz? O escultor August Rodin. O mestre guardava um vício de caráter: não divulgava a colaboração da sua amante e aluna Camille na feitura de suas obras. Sendo mestre na autopromoção como considera meu amigo português, pelo menos esse pecado não cometo: divulgo todas as mensagens dos leitores que são a razão de ser do blog. Eles fazem comigo esse espaço cibernético.

Meu compadre Jota Alves, radialista em Guarabira e mariense ilustre, sai em defesa do seu velho amigo, o Fabinho aqui: “Com a máxima data venia e, entrando no debate com o portuga a respeito de autopromoção, devo dizer ao nobre que sou testemunha do quanto Fábio foge dos holofotes e tão somente se preocupa em direcionar o foco a personagens ilustres desconhecidos, mas merecedores de luz, iguais a Manoel Pedro - hoje Pedro Graciano na Rádio Rural -, Francisco Tadeu, Silvano Silva, João (Jota) Alves, Mércia Chaves, Hozaneide Vicente, Damião do Picolé, Luis Trindade, Edileide Xavier, Severino e Manoel Batista, Beba do Violão, entre outras figuras populares da minha Mari. Todavia, entretanto, porém... fui buscar na sétima arte um verdadeiro mestre em autopromoção: ALFRED HITCHCOCK. O rei do suspense não abria mão de uma aparição, por menor que fosse, em todos os seus festejados filmes”.

No Brasil, acho que o troféu máximo da autopromoção fica com o jogador Romário, salvo melhor juízo.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Dia do enfermo

Fábio Mozart

Hoje é dia do enfermo, conforme consta na folhinha. Sem assunto para tratar na Toca hoje, apelo para o dia do enfermo, começando por confessar que, em virtude da falta de estudo e experiência, não sei por que comemorar o dia do enfermo. Quando o suplicante cai doente, os amigos desaparecem, os parentes cuidam de má-vontade do pobre padecente. Algumas raras visitas de caridade, cumprindo etiqueta.

No dia do enfermo, penso que todos nós somos doentes, frágeis. Achando que estou em perfeita saúde, de repente descubro o desamparo de nossa condição humana.

Mas no dia do enfermo, devo mandar um bilhetinho de felicitações ao cara que está na cama, vítima de derrame cerebral? É de bom tom enviar flores para a moça que teve cólera e hepatite?

Leio que o motivo da data é para sensibilizar governantes e sociedade para uma atenção especial ao enfermo, possibilitando assistência mais adequada. Essa informação está no site do Hospital do Açúcar, em Alagoas. Não recomendo esse nosocômio para os pacientes com problemas de diabetes. Tenho minhas dúvidas se os governantes vão se comover com isso. Melhor a lei formulada por um vereador besta aí do interior, que obrigava o prefeito e seus familiares a se tratar no hospital da cidadezinha, mais conhecido como “matadouro”.

De todo modo, repasso mensagem de um tal Cristian Gump: “Assim, eu venho lhe desejar o pior nessa data. Que você possa comemorá-la padecendo de uma bela gripe, síndrome da redução genital, pneumonia, insuficiência cardíaca congestiva, leucemia linfóide crônica, maldição de ondina, hematocele, ou uma tiriça qualquer”.

Mas não exagere! Guarde-se um pouco para outra data comemorativa. Dia 11 de fevereiro é o dia mundial do enfermo.

Adoeça com moderação!
São meus votos sinceros.

Prostitutas de Deus

No dia 18 de outubro de 1974, chegou a Itabaiana uma comitiva da Igreja Católica comandada pelo padre Alfredo Barbosa, de Cabedelo, com a missão de fundar aqui a Pastoral da Mulher Marginalizada, “dedicada ao atendimento das vítimas da prostituição”. Era um encontro de formação com a assistente social Maria de Lourdes Carvalho e as voluntárias Raquel de Vasconcelos e Teresa Neuma. A tentativa fracassou, porque não foi encontrado ninguém para assumir a pastoral das prostitutas. Itabaiana é uma cidade muito preconceituosa, e para se dedicar a esse tipo de serviço é preciso ter paciência, compreensão e atitude fraterna para com os marginalizados.

Esse padre Alfredo Barbosa foi um santo homem. Cuidou dos pobres e oprimidos, lutou pela cultura e deixou seu nome gravado no panteão dos vultos ilustres e generosos da Paraíba. Sua luta era contra a tradição e o preconceito com relação às chamadas “mulheres da vida”. Brandindo o livro das contradições, a Bíblia, os pastores protestantes citavam Provérbios 5: 3 para condenar o trabalho do padre: “Os lábios da mulher licenciosa destilam mel, mas o seu fim é amargo como o absinto; afasta-te dela antes que chegues à ruína completa”. Já padre Alfredo também citava a Bíblia em Mateus 21, 31, onde se lê que as raparigas chegarão ao céu primeiro do que os pastores. Hebreus 11,31 esclarece que Deus pessoalmente concedeu a salvação a uma prostituta por nome Raab.

A própria Igreja Católica sempre teve um sentimento de ódio e rancor contra as mulheres. Começa por proibir o casamento aos padres. A mulher não tinha direito à própria alma. Só ganhou por uma maioria de três votos no Concílio de Marcon. A Bíblia culpa a mulher pelo pecado de Adão. São João Crisóstomo bradava sua misoginia nos púlpitos, acusando a mulher de ser a causa do mal, “a pedra do túmulo, a porta do inferno”. Santo Antonio foi outro a difundir sua aversão ao sexo feminino. Para ele, a mulher “é a cabeça do crime, arma do diabo”.

O certo é que as prostitutas acreditavam em Deus e não em preservativo. Por isso as mães com muitos filhos de pais diferentes, filhos menores nos cabarés, desnutrição, doença, exploração, fome, violência, analfabetismo e carência de tudo. Essa era a realidade encontrada nas zonas do meretrício pelas freiras e voluntárias da Pastoral da Mulher Marginalizada.

Durante muito tempo, Itabaiana foi um dos maiores centros de prostituição do Nordeste. Os cabarés daqui eram famosos, atraindo prostitutas de muitas regiões. A Igreja Católica combatia esse negócio com vigor. O padre não aceitava as putas na igreja. Delegados de polícia proibiam-nas de andar pelas ruas depois das dez horas, raspavam as cabeças das pobres mulheres e causavam todo tipo de constrangimento às hoje chamadas “profissionais do sexo”. Com a decadência econômica, acabou a zona. Ficou o preconceito contra essas mulheres e cidadãs. Tanto que a própria Igreja até hoje não conseguiu formar sua Pastoral para cuidar dessas mulheres infelizes na antiga “capital da putaria”.

www.fabiomozart.blogspot.com

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Jazz

O jazz começou na América do Norte, mas se mundializou. Nova Orleãns foi o ninho onde nasceram os músicos que juntaram a criatividade da comunidade negra com a cultura popular. Os afro-americanos criaram o jazz como os negros brasileiros pariram o samba e suas vertentes.

Os caras pegam um tema musical e começam a improvisar. Eu comecei a gostar de jazz ouvindo Miles Davis e sua banda fantástica. Não sou especialista, mas adoro saber que quase tudo que tocam nos discos foi gravado de improviso. John Coltrane é um saxofonista considerado o maior de todos os tempos. É imprescindível para quem quer começar a conhecer o jazz.

Recebi um presente do maestro Edson Rodrigues, o CD “Contrabanda”, disco que comemora 22 anos dessa banda de Pernambuco. Tem frevo, bossa-nova, maracatu, blues, valsa-jazz, forró e baião, tudo com o tempero jazzístico impecável da “Contrabanda”. O disco tem apoio da Prefeitura do Recife. Quem quiser pedir seu exemplar, o E-mail do maestro é edson.crpj@uol.com.br

A página é www.maestroedsonrodrigues.com

Aqui em João Pessoa tem uns paraibanos loucos por jazz. A banda “Dixieland” toca um subgênero do jazz, que é pra iniciados. Coisa finíssima. Quando se sabe que essa riqueza foi trazida da África pelos escravos, fico a imaginar o que se passa na cabeça de um racista para afirmar que os negros são inferiores, gente primitiva.

Em Campina Grande, a cidade mais charmosa da Paraíba, rola o CAMPINA JAZZ FESTIVAL, evento marcante que acontece em abril, setembro e novembro. São dez bandas de músicas instrumentais e vocais, resgatando o que há de melhor na cultura musical em nosso Estado. A maior importância do festival é abrir espaços para grandes músicos compositores que vivem fora da mídia e mostrar novos valores, dando início à sua participação no mercado de trabalho.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Ponto de Cultura vai motivar estudantes a interagir no mundo do rádio.

O Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, em Itabaiana (PB), está ultimando projeto cujo objetivo é motivar jovens estudantes de escolas públicas a ingressarem no mundo da comunicação, especificamente o rádio. O Projeto incentivará jovens na produção de jornais e programa de rádio. Para isso, será realizado curso de produção midiática, capacitando especialmente para programas de rádio, com apoio da Rádio Comunitária Rainha FM, de Itabaiana, cujo Diretor, Antonio Andrade, já sinalizou que a grade de programação da emissora estará disponível para essa experiência.

Segundo Marcos Veloso, coordenador do Ponto de Cultura e Diretor da Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba, será produzida uma revista semanal com os principais fatos da semana no Município, entrevistas, debates e números musicais abrindo e fechando os blocos. O programa será conduzido pelos estudantes envolvidos no Projeto, depois de passarem por formação nas oficinas técnicas em estúdio do próprio Ponto de Cultura, que tem o apoio do Ministério da Cultura. A equipe de jovens produzirá desde o roteiro, as vinhetas, os jingles, os spots, até a elaboração da pauta, a produção, a montagem e as reportagens. “Vale ressaltar, que o projeto tem como um dos seus objetivos utilizar os espaços públicos para refletir sobre os problemas e conquistas da comunidade visando, sobretudo a melhoria do desenvolvimento local”, observou Fábio Mozart, um dos diretores da entidade.

FOTO: Marcos Veloso entrevista o ex-deputado Fernando Melo. Veloso é um dos participantes do Projeto.

CLIC pccn.wordpress.com

sábado, 9 de janeiro de 2010

Fatinha se explica

Fatinha Pereira, a que esculachou meu jornal “Tribuna do Vale”, remeteu outra mensagem explicando as suas razões. Ela conta que é professora aposentada e faz um trabalho voluntário de alfabetização de adultos em colônia de pescadores no litoral paraibano. Como método pedagógico, resolveu adotar o jornal sensacionalista JÁ como material de leitura dos seus alunos, pela forte atração popular daquela publicação. Acontece que “Zé Maria”, que deve ser seu esposo, encontrou crônica minha na internet onde falo mal do jornal editado por Walter Galvão, do Sistema Correio. Nessa crônica, comparo o JÁ paraibano com outro jornal do mesmo nome que circula no Rio Grande do Sul, ganhador do Prêmio Esso de jornalismo, vítima da pressão do governo de lá.

Realmente chamei de “lixo” o JÁ paraibano, chocando os alunos de dona Fatinha Pereira. Ela disse que ofendi àquelas pessoas simples, ao comparar com lixo seu material de estudo, sua cartilha de alfabetização. Por isso, resolveu meter o pau no meu jornal “Tribuna do Vale”, para esse velho jornalista idiota “sentir na própria carne o que é receber uma ofensa”. Acusei o golpe, pedi desculpas, ela também se justificou. Declarou que admirava o “Tribuna do Vale”. Admirando seu senso de ironia, espero que seus alunos não venham a absorver os conteúdos das “cartilhas” e feliz por saber que o JÁ tem assumido esta saudável função pedagógica.

Fuçando no Google, soube que Maria Aparecida Borelli, uma educadora de Brasília, também adota jornais sensacionalistas, escandalosos e até parciais nas salas de aula. A professora do Centro de Ensino Unificado de Brasília garante que “a precariedade da educação e as desigualdades social e econômica do Brasil fazem com que o jornal tenha um papel revolucionário na educação, pois o uso dele melhora o nível de competência dos professores e contribui para a formação do aluno”. Quem sou eu para discordar? Com a palavra o educador e polemista Ivaldo Gomes.

Promover o exercício da cidadania, a que todos têm direito, formar uma consciência crítica da realidade que cerca o aluno por meio de jornais escandalosos, é no mínimo polêmico. Por exemplo, você acha que exibir ao público mulher de corpo bonito é deseducar o povo? Em tempos de escândalos e roubalheiras nas câmaras e no Congresso Nacional, o que é realmente erro ou pecado?

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Fatinha esculachou o “Tribuna do Vale”

“Esgoto é pouco para esse lixo”. É com essa frase nada simpática que começa uma mensagem que recebi de leitora que se identifica como Fatinha Pereira (fatinhapereira@yahoo.com).
Ela se refere ao jornal Tribuna do Vale, mensário que circula na região do vale do Paraíba. Fiz menção ao jornal em crônica passada, afirmando que voltaria a ser publicado em 2010. A tal Fatinha tem uma bronca pesada do jornal, a ponto de chegar à agressão gratuita: “Chega a dar pena você considerar a Tribuna do Vale um jornal. Esgoto é pouco para esse lixo, porcaria de analfabetos, que nos ameaça em 2010. Vê se toma vergonha e deixa essa "coisa" que você chama de jornal enterrada para sempre. Nossos olhos não são latrina para ler semelhante agressão ao bom senso e ao jornalismo paraibanos. Vade retro, coisa ruim”.

Transcrevo a crítica peçonhenta da mulher para não ficar parecendo que recebo apenas elogios. Minha educação e paciência com o contraditório não me deixam responder à altura. Quando se dialoga com pessoas que possuem idéias opostas à sua, há de qualquer forma um acréscimo. Mas quando se pega pesado como a Fatinha, tenho apenas a curiosidade de saber em que ela se baseia para classificar oTribuna do Vale como abaixo de esgoto. O jornal já recebeu até diploma de melhor mídia da região. Nem sei se ela se refere ao Tribuna do Vale de Itabaiana, Paraíba. De repente, trata-se de outra publicação.

Ela fala em jornalismo paraibano, então é do nosso Estado. De qualquer modo, identifiquei seu computador, para o caso de sofrer mais ataques da leitora neurótica e violenta, além de mal educada. Quando você se dirige ao mundo virtual, é como estivesse entrando na casa das pessoas. Ninguém em sã consciência entra na casa dos outros xingando todo mundo e esculachando. A beleza da internet é justamente achar textos e opiniões de outras pessoas que fogem à nossa visão de mundo, mas dentro de padrões mínimos de civilidade.

Esse povinho semi-analfabeto a que ela se refere acaba de receber prêmio do Ministério da Cultura para publicar livro de crônicas e poemas. Peço humildemente desculpas por ter agredido sua inteligência ao publicar o jornal. Ignore o “lixo” a partir de agora, madame. Passar bem.

Leitor é como parente: a gente não escolhe.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

PÊNALTI E FESTA NÃO SE PERDE

O velho ditado dos boleiros e festeiros diz que pênalti e festa não se perde. Pois não vá perder nossa seresta, dia 15 de janeiro, no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Teremos música de qualidade com Vital Alves e Wagner Lins, chopinho no capricho, espetinho, peixe frito e ovo de codorna. No meio do pagode vai rolar bingo de alguns prêmios para ajudar o Ponto.

Mas nem só de festa vive o ser humano. Vive de cultura também. No dia 29 de janeiro está programado evento cultural em dose tripla no Ponto de Cultura: lançamento de livro de Romualdo Palhano, inauguração da biblioteca Jornalista Arnaud Costa e apresentação da peça “Casamento de branco”, com o Grupo Piollin de João Pessoa. Nosso correspondente em Amapá, onde vive Romualdo Palhano, já informou que ele está se preparando devidamente para ser recepcionado pelos amigos itabaianenses, quando declamará poemas de Zé da Luz juntamente com Sanderli Silva, outro declamador da gota serena. Se brincar, até o poeta e declamador Jessier Quirino vai prestigiar o lançamento do livro de Romualdo e a inauguração da biblioteca. Arnaud Costa.

O homenageado virá de Sapé onde mora para cortar a fita. O jornalista recebe a justa homenagem pelos relevantes serviços prestados à sua terra natal e à cultura itabaianense durante mais de 50 anos como gráfico, redator e colunista do jornal A FOLHA, o mais antigo do interior da Paraíba. Seu trabalho na área jurídica também é destaque na biografia de Arnaud Costa, o “advogado dos pobres” como era conhecido na região, no tempo em que militava nos tribunais.

O casal Irene Marinheiro e Zenito Oliveira (na foto) já confirmou presença na inauguração da biblioteca e lançamento do livro de Romualdo. Os dois moram no Bessa, em João Pessoa. Foram meus professores no antigo Colégio Estadual de Itabaiana. Igualmente ensinaram a Romualdo Palhano, que hoje é pós-doutor em artes cênicas, professor universitário e escritor. Firmou-se no mundo da educação e da cultura e não mais arredou pé de seus espaços duramente conquistados. Estudou em Cuba, onde nasceu o seu primeiro filho. Romualdo é um vencedor, que muito orgulha Itabaiana, seus antigos mestres e velhos amigos.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Baú de putaria dando uma força ao Fabinho

Recebi mensagem do poeta e escritor Rui Vieira, de Campina Grande, autor do livro Baú de Putaria. Disse que leu e gostou do meu cordel “Biu de Pacatuba, um herói do nosso tempo”, que fala da vida de um camponês de Sapé, lutador pelos direitos dos agricultores sem terra e perseguidos pelos latifundiários. Pacatuba foi o primeiro presidente das Ligas Camponesas de Sapé.

Rui quer me dar uma força, aliás, já deu. Botou o cordel debaixo do braço e foi falar com seu amigo Nelson Coelho, superintendente da União Editora. Nelson é estudioso dos conflitos agrários na várzea do Paraíba na década de 60, sendo autor do livro “A tragédia de Mari”, sobre uma batalha sangrenta entre fazendeiros e camponeses em terras marienses. Pediu a Nelson para publicar o cordel. “Ele se prontificou a publicar seu trabalho”, informou Rui.

Melhor notícia não há nesse final de ano. A cada dia que passa a gente ganha uma coisa e perde outra. Sou do tipo que gosta de contabilizar os créditos e não os débitos, como naquele comercial de banco. As coisas ruins, bota no baú dos esquecidos.

Rui Vieira está trabalhando no “Dicionário Temático da Poesia Popular Nordestina”, que já vai bem adiantado. “Gostaria de registrar seu trabalho poético na área de cordel”, me disse o putanheiro de Campina Grande. Com o perdão pela expressão chula, isso não é da gente ficar mais arreganhado do que furico de galinha na hora da postura? Ainda nem comecei direito minha vida de escrevinhador de cordel e já viro verbete de dicionário. Sem querer me comparar, lembro que o poeta cordelista Paulo Nunes Batista, que nasceu em João Pessoa em 1924, teve seus textos poéticos traduzidos até para o japonês, com seu nome citado na Grande Enciclopédia Delta Larousse. Foi ele o autor do folheto “As proezas de João Grilo”, que inspirou Ariano Suassuna para escrever a peça “A Compadecida”.

Meu compadre Rui Vieira, agradeço tua força, saudações poéticas e que 2010 seja o ano da definitiva redenção do cordel, que ainda é desvalorizado. Os elitistas nem desconfiam que a literatura de cordel tem origens eruditas, na literatura medieval dos trovadores albigens provençais, na França.