Era um velhinho desassombrado. Desde moço, comprava as brigas dos outros. Advogado, defendeu com coragem e altivez as vítimas dos regimes autoritários brasileiros. Brigou contra o regime fascista de Getúlio Vargas; defendeu Luiz Carlos Prestes após sua prisão quando tentaram um levante comunista em 1935; teceu armas em favor do escritor alagoano Graciliano Ramos; advogou para Carlos Lacerda e Miguel Arraes; delirou com a campanha das “Diretas Já”, enfim, esse velhinho que só trajava ternos pretos (dizem que um político campinense ainda hoje é fiel a esse estilo, em homenagem a ele), foi considerado o “brasileiro do século vinte”.
Aos 75 anos, ele teve que se levantar contra outro governo autoritário. Foi quando as Forças Armadas obrigaram o Presidente Costa e Silva a assinar o Ato Institucional nº 5, fechando o Congresso e jogando o País em uma ditadura feroz. Os militares começaram prendendo todo mundo que pensava e tinha opinião: professor, jornalista, advogado, estudante, político, artista e até boêmio. Nem precisava ter culpa no cartório, bastava ter consciência das coisas e oferecer perigo ao regime de exceção que se instalava.
No seu livro “1968 – o ano que não terminou”, Zuenir Ventura conta que um major e seis soldados arrombaram o apartamento do advogado Sobral Pinto. O major foi logo gritando:
--- Eu trago uma ordem do presidente Costa e Silva para o senhor me acompanhar.
Sentado estava, sentado Sobral ficou.
--- Meu amigo, o marechal Costa e Silva pode dar ordens ao senhor. Ele é marechal, o senhor é major. Mas eu sou paisano, sou civil. Se esta é a ordem , então o senhor pode se retirar porqueu não vou.
--- O senhor está preso! – gritou o major.
--- Preso coisa nenhuma!
Os seis homens arrastaram o velho e o levaram para um quartel, onde um coronel perguntou:
--- O senhor é patriota?
Sobral foi duro mais uma vez:
--- O senhor engula o que está dizendo! Eu sou patriota, o senhor não. O senhor vive às custas do Estado e está ajudando a estuprar a democracia do meu País!
--- Retirem esse homem e o ponham na prisão – ordenou o coronel.
Foi nessa pisada que Sobral Pinto enfrentou a ditadura militar que se instaurou a partir de 1968.
Quando esse grande brasileiro completou 85 anos de idade, meu pai Arnaud Costa instalou um escritório de advocacia em Itabaiana e botou o nome dele como homenagem ao notável advogado. Heráclito Sobral Pinto enviou a seguinte carta, agradecendo a deferência:
“ Rio, 23 de janeiro de 1978
Drs. Arnaud Costa, Josué Dias de Oliveira e Juraci Marques Ferreira:
Envio-lhes, como de obrigação, o meu abraço cordial, desejando-lhes, ao mesmo tempo, um ano de 1978 repleto de venturas e triunfo.
Recebi, envaidecido, o convite para as solenidades de inauguração das instalações do escritório a que deram o meu modesto nome.
Confio em que compreenderam a impossibilidade em que estive, de atender ao honroso convite. A enorme distância que me separa de Itabaiana, Paraíba, o custo alto das passagens e minhas atividades profissionais impediram-me de assistir, como gostaria, às mencionadas solenidades.
Nutro a convicção de que adotando o meu nome para distinguir o seu escritório de advocacia é porque têm o propósito de adotar, na vida profissional, os princípios, as normas e as praxes que sempre orientaram a minha atividade de professor, de advogado e de homem público.
Meu interesse é que no interior do Nordeste atue um centro de atividade jurídica e cívica que se empenhe, permanentemente, em defender os preceitos da justiça e dos ditames do Direito. Que esse escritório sirva de garantia a todas as pessoas que trabalham pela manutenção, na região de Itabaiana, de um clima de dignidade pessoal e de respeito, tanto à liberdade individual quanto às liberdades públicas.
O grande problema do Brasil na atualidade é a formação pacífica de uma opinião pública esclarecida e voluntariosa, que se disponha a lutar, em todos os quadrantes do País, dentro do direito irresistível, por um governo do povo.
Cordialmente, seu colega agradecido,
a) H. Sobral Pinto”.
Aos 75 anos, ele teve que se levantar contra outro governo autoritário. Foi quando as Forças Armadas obrigaram o Presidente Costa e Silva a assinar o Ato Institucional nº 5, fechando o Congresso e jogando o País em uma ditadura feroz. Os militares começaram prendendo todo mundo que pensava e tinha opinião: professor, jornalista, advogado, estudante, político, artista e até boêmio. Nem precisava ter culpa no cartório, bastava ter consciência das coisas e oferecer perigo ao regime de exceção que se instalava.
No seu livro “1968 – o ano que não terminou”, Zuenir Ventura conta que um major e seis soldados arrombaram o apartamento do advogado Sobral Pinto. O major foi logo gritando:
--- Eu trago uma ordem do presidente Costa e Silva para o senhor me acompanhar.
Sentado estava, sentado Sobral ficou.
--- Meu amigo, o marechal Costa e Silva pode dar ordens ao senhor. Ele é marechal, o senhor é major. Mas eu sou paisano, sou civil. Se esta é a ordem , então o senhor pode se retirar porqueu não vou.
--- O senhor está preso! – gritou o major.
--- Preso coisa nenhuma!
Os seis homens arrastaram o velho e o levaram para um quartel, onde um coronel perguntou:
--- O senhor é patriota?
Sobral foi duro mais uma vez:
--- O senhor engula o que está dizendo! Eu sou patriota, o senhor não. O senhor vive às custas do Estado e está ajudando a estuprar a democracia do meu País!
--- Retirem esse homem e o ponham na prisão – ordenou o coronel.
Foi nessa pisada que Sobral Pinto enfrentou a ditadura militar que se instaurou a partir de 1968.
Quando esse grande brasileiro completou 85 anos de idade, meu pai Arnaud Costa instalou um escritório de advocacia em Itabaiana e botou o nome dele como homenagem ao notável advogado. Heráclito Sobral Pinto enviou a seguinte carta, agradecendo a deferência:
“ Rio, 23 de janeiro de 1978
Drs. Arnaud Costa, Josué Dias de Oliveira e Juraci Marques Ferreira:
Envio-lhes, como de obrigação, o meu abraço cordial, desejando-lhes, ao mesmo tempo, um ano de 1978 repleto de venturas e triunfo.
Recebi, envaidecido, o convite para as solenidades de inauguração das instalações do escritório a que deram o meu modesto nome.
Confio em que compreenderam a impossibilidade em que estive, de atender ao honroso convite. A enorme distância que me separa de Itabaiana, Paraíba, o custo alto das passagens e minhas atividades profissionais impediram-me de assistir, como gostaria, às mencionadas solenidades.
Nutro a convicção de que adotando o meu nome para distinguir o seu escritório de advocacia é porque têm o propósito de adotar, na vida profissional, os princípios, as normas e as praxes que sempre orientaram a minha atividade de professor, de advogado e de homem público.
Meu interesse é que no interior do Nordeste atue um centro de atividade jurídica e cívica que se empenhe, permanentemente, em defender os preceitos da justiça e dos ditames do Direito. Que esse escritório sirva de garantia a todas as pessoas que trabalham pela manutenção, na região de Itabaiana, de um clima de dignidade pessoal e de respeito, tanto à liberdade individual quanto às liberdades públicas.
O grande problema do Brasil na atualidade é a formação pacífica de uma opinião pública esclarecida e voluntariosa, que se disponha a lutar, em todos os quadrantes do País, dentro do direito irresistível, por um governo do povo.
Cordialmente, seu colega agradecido,
a) H. Sobral Pinto”.